Matrix | Conhece a ti Mesmo

O ano é 1999, momento pelo qual estávamos já nas vésperas do fim do século XX e entrando no até então desconhecido novo século XXI.

Foi um ano criativo, em que muitos filmes, desde o Clube da Luta ao Magnólia, que ousavam ao lançar uma proposta em que fazia as pessoas refletirem sobre o nosso próprio dia a dia.

E já naquele início de ano, o mundo foi pego de surpresa pelo filme Matrix, obra de ficção recheado de filosofia, teorias conspiratórias, mas que, acima de tudo, falava sobre as nossas próprias escolhas.

Realizado pelas mentes criativas das irmãs Lilly Wachowski e Lana Wachowski, o filme bebe muito da fonte do Novo Testamento, Cyberpunk, Star Wars, HQ, Kung Fu, John Woo e tudo o que havia de melhor da cultura pop.

Ao mesmo tempo, o filme possui uma carga filosófica com relação às teorias levantadas por Sócrates, Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, René Descartes, Immanuel Kant, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre e Wilfrid Sellars.

Tudo isso para moldar um filme original, imprevisível, mas do qual nos identificamos.

É bom salientar que as realizadoras usaram, de uma forma bem refinada, o conceito da Jornada do Herói, levantada pelo escritor Joseph Campbell em 1949 e da qual é usada para estudarmos sobre personagens mitológicos, bíblicos e até mesmo os que são vistos em tempos contemporâneos.

Acima de tudo, a Jornada do Herói fala sobre nós mesmos, da nossa cruzada pessoal pela vida e da qual ficamos sempre procurando por respostas com relação às consequências de nossas próprias escolhas.

Curiosamente, embora o filme lance a ideia de que Neo (Keanu Reeves) seja uma espécie de salvador da humanidade contra as máquinas, tudo que vem a seguir na trama é por meio de algo que não estava escrito, mas sim através das escolhas de seus protagonistas. 

Escolhas essas que movem os personagens principais da trama:

Morpheus (Laurence Fishburne) escolhe acreditar que Neo é o salvador, assim como Cypher (Joe Pantoliano), que decide trair os seus colegas e voltar a viver dentro da Matrix. Aliás, este personagem é curioso, já que opta em viver como escravo do sistema virtual, vivendo em um comodismo falso, ao invés de viver no mundo real.

Assim como também foi visto em outros filmes como, por exemplo, o já citado Clube da Luta, Matrix reacende o debate da questão do Homem X Sistema. Isto é, sobre até que ponto nós podemos ser submissos ao mundo cheio de regras, do consumismo desenfreado e do qual muito disso é criado pelo capitalismo ambicioso.

matrixSe existia a possiblidade de uma geração cada vez menos desvencilhada a isso, por outro lado, essa mesma se viu presa novamente as tentadoras redes sociais do mundo digital deste início de século, das quais vendem a ideia de aproximação ao próximo, mas que na realidade nos distancia cada vez mais do nosso próprio mundo. “

Matrix, portanto, nos apresentou uma ficção não muito distante do que viria acontecer, já que se vê atualmente pessoas caminhando pelas ruas, mas presas em seus celulares e se esquecendo de enxergar o mundo em sua volta.

Na ficção vista em Matrix, a humanidade está presa em uma realidade interativa e sendo usada como energia para as maquinas.

Porém, há pessoas que questionam essa realidade e optam em serem livres deste sistema. No nosso mundo real atual, vejo pessoas querendo se afastar da internet, de mídias parciais e assim levantarem as suas próprias opiniões.

O acumulo de informações, desde autênticas, como também de fake news, se tem criado um clima claustrofóbico, mas sem paredes das quais, aparentemente, nos mantém presos.

Há também as paranóias com relação à vigilância, na qual muitas pessoas optam em renegar as redes sociais e a própria internet, pois se sentem cada vez mais inseguras com a possibilidade de perderem o próprio direito de viver — pelo visto, as irmãs Wachowski não estavam muito distantes com relação ao nosso próprio futuro.

Embora pessimista em alguns momentos, Matrix, também, é um filme cheio de otimismo e isso é muito bem sintetizado pela personagem Oráculo (Gloria Foster).

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Ao lhe dar más notícias sobre o que estar por vir, Oráculo deixa claro para Neo que tudo o que vier acontecer será devido as suas escolhas, como no caso, por exemplo, dele ser ou não o predestinado.

Neo não acredita em destino, porém, ele se torna o símbolo que Morpheus acreditava por meio das escolhas que havia tomado.

Com toda essa bagagem filosófica, o filme já poderia se sustentar como um todo. Porém, as cineastas foram revolucionárias na criação de efeitos até então inéditos, como no caso, por exemplo, do efeito Bullet time e do qual ganhou um merecido Oscar na categoria.

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Além disso, os próprios atores foram submetidos a um rigoroso treinamento, para que assim, as cenas de luta se tornassem muito mais verossímeis.

Com o sucesso de público e de crítica em mãos, o produtor Joel Silver cedeu o desejo das cineastas em realizar uma trilogia.

Vieram então Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, ambos lançados em 2003 e dos quais dão continuidade à cruzada de Neo.

Porém, é no derivado Animatrix, filme realizado por inúmeros animadores, que se encontra toda a carga filosófica vista no filme original e do qual enxergamos ela sendo ainda mais expandida.

Mesmo com os seus mais de vinte anos de existência, Matrix fala sobre os nossos tempos atuais, nos quais cada vez mais somos absorvidos pelo sistema e que cabe nós mesmos escolhermos em sermos livres em nossa cruzada pela vida.

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