Crimes do Futuro | Confira nossa crítica

Confira nossa análise do filme “Crimes do Futuro”, que nos trás de volta a genialidade de David Cronenberg.

Crimes do futuro
Ficha Técnica
Título: Crimes do Futuro
Ano de Produção: 2022
Dirigido Por: David Cronenberg
Estreia: 14 de julho de 2022
Duração: 1h 48min
Classificação: 18 anos
Gênero: Terror, Ficção cientifica, Suspense, Drama
País de Origem: EUA
Sinopse:

Em um futuro diatópico, onde os humanos precisam aprender a conviver e se adaptar a um ambiente sintético, a espécie deve ir para além do que seu estado natural permite e se submeter a uma metamorfose, o que causa uma mudança em seu DNA. Enquanto alguns abraçam o potencial ilimitado do trans-humanismo, outros tentam policiá-lo. De qualquer modo, a Síndrome da Evolução Acelerada está se espalhando rapidamente. Saul Tenser é um artista mundialmente reconhecido que utiliza esse novo estado de ser para sua arte, realizando alterações no seu corpo de forma pública. Junto com Caprice, Tenser transformou a remoção de seus próprios órgãos “extras” em um espetáculo para seus fiéis espectadores se maravilharem, numa espécie de performance teatral.

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Cronenberg está de volta

Ao que parece David Cronenberg tem desde cedo tem um pensamento único sobre os seres humanos de que cada vez mais perdem os seus sentimentos dos quais nós conhecemos e dando lugar para outros desejos conforme essa realidade vai avançando. Porém, determinados desejos em seus atos geram consequências e que, talvez, gerem novos rumos para a humanidade e, ao meu ver, Cronenberg parece atento a esse cenário. Pegamos, por exemplo, o seu “Calafrios” (1975), onde um grupo de pessoas são infectadas por um estranho parasita e fazendo com que as mesmas comecem em praticar sexo continuo.

O filme seria uma espécie de metáfora do que viria a seguir, já que ainda nos anos setenta o vírus da AIDS não havia se manifestado, mas ao que parece o realizador tinha uma vaga suspeita do que viria a seguir nos próximos anos. Uma vez que o sexo se torna para alguns perigoso nos anos oitenta o realizador faz disso como peça central do seu clássico “A Mosca” (1986), onde a transformação, ou degradação do protagonista, sintetize os tempos em que o medo do contágio por qualquer vírus estava em abundância. O medo fez com as pessoas procurassem outros tipos de prazer, ao ponto que Cronenberg captou isso de imediato, principalmente no seu polêmico e premiado “Crash – Estranhos Prazeres” (1996).

Crimes do futuro

Narrativa

O final do século vinte traz novas perspectivas, principalmente ao fato de que as novas tecnologias fazem com que o ser humano procure novas formas de contato, mas ao mesmo tempo lhe distanciando do que os fazem verdadeiramente humanos. Em “eXistenZ” (1999) vemos a sociedade fugir da realidade ao usar uma tecnologia que os fazem ir para uma vida simulada, mas que, curiosamente, essa tecnologia se mistura com a orgânica e remetendo ao fato de que o realizador sempre teve uma certa paixão em explorar os limites da carne do ser humano perante uma desordem que acontece com o mesmo. É neste sentido que chegamos ao “Crimes do Futuro” (2022), projeto antigo do cineasta, mas ganhando somente agora o seu formato graças ao fato de que, talvez somente agora, podemos melhor digeri-lo.

Crimes do Futuro

Já na abertura o realizador demonstra que não está para brincadeira, ao vermos um menino sendo supervisionado pela sua mãe para que ele não coma algo que não deva na praia. Ao fundo testemunhamos um navio afundado e fazendo a gente se dar conta que aquele mundo se encontra abandonado, ou dando um novo passo para uma evolução ainda em construção ao redor do mundo. Não demora muito para vermos o mesmo menino comendo uma lata de plástico e fazendo com que a mãe tome uma decisão que nos pegue desprevenidos.

O “DNA” de Cronenberg

Essa abertura já nos dá uma dica do que estará por vir no filme, onde basicamente Cronenberg reutiliza tudo que já havia usado nos seus filmes anteriores e dando um novo passo sobre a questão de a humanidade estar evoluindo ou retrocedendo com relação aos desejos, sentimentos e sensações que hoje se encontram em total conflito. Neste último caso, vemos uma sociedade dividida, onde de um lado se deseja que as mudanças corporais avancem enquanto outras se aproveitam em utiliza-las ao seu modo e de uma forma até mesmo absurdamente artística. O personagem de Viggo Mortensen pertence a esse segundo grupo, mas ao mesmo tempo se tornando uma espécie de observador com relação aos dois lados dessa moeda e fazendo se questionar até onde irá chegar nesta cruzada.

Visualmente é o filme mais cru de Cronengerg depois de muito tempo, ao nos passar uma realidade que se encontra abandonada na própria sorte e onde vemos pessoas sempre nas sombras, como se não houvesse mais luz para poderem desfruta-las. Aliás, a fotografia obscura me fez relembrar da obra do cineasta português Pedro Costa, principalmente com o seu recente “Vitalina Varela” (2019) e cujo os ambos cenários se encontram muito mais próximos um do outro do que nós imaginamos. Um futuro desolador, mas não muito diferente do que pode nos acontecer nos próximos anos.

Curiosamente, Cronenberg nos prega um verdadeiro final que deixa quase tudo em aberto, principalmente em um momento em que a humanidade se encontra dando um novo passo a essa sua ânsia pela fusão do material sintético com o orgânico e fazendo a gente imaginar qual seria o próximo passo. Antes disso, testemunhamos uma total desumanidade com relação a essa nova geração, da qual desamparada correrá um sério risco de se tornar apenas uma peça exibicionista para os demais. Pelo visto, o realizador não vê muita luz com relação ao nosso futuro, mas sim apenas uma luta mental e corporal na busca de voltarmos ao que realmente nos fazia ser seres humanos.

Considerações finais

“Crimes do Futuro” é o retorno de David Cronenberg em grande estilo, ao usar tudo o que havia feito no cinema no passado e nos chocando com o seu total pessimismo com relação ao nosso futuro.

Onde Assistir: Apple TV, Google Play Filmes e TV

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