UcconX faz, entre erros e (alguns poucos) acertos, sua estreia “memorável”.
Em um belo dia, a dois meses atrás e enquanto pesquisava sobre os eventos geeks que estão marcados para esse ano, deparei com o anúncio do UcconX. Fiquei muito surpresa, porque não fazia ideia de que esse evento estava para acontecer, mas resolvi dar uma olhada já que a descrição dizia “o maior festival de cultura pop da América Latina”.
Até posso considerar que foi, porém, não pelos motivos certos.
Cliquei no ícone do site e, primeira surpresa, não havia nada! Apenas o servidor e o layout com o visual do UcconX, mas sem informações de atração ou venda ingressos, o que era bastante estranho para um evento com previsão de acontecer no final de julho. Afinal, grandes eventos como a CCXP e a BGS, por exemplo, fazem seus anúncios muuito antes.
Meu lado curioso, então, me levou a pesquisar no Instagram. E o perfil estava tão abandonado quanto todo o resto. Poucas postagens antigas e, de novo, nenhuma atualização. Resolvi esquecer o assunto porque, na minha cabeça, não valia o esforço.
“Acho que nem vai rolar esse evento”, pensei.
Pois é.
Foi o que pensei. Assim como todo mundo.
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As polêmicas por trás do UcconX
Apesar de ter deixado pra lá, os comentários acerca do UcconX continuaram rolando nas redes sociais, ao ponto de eu ceder e procurar informações outra vez. O site, enfim, estava no ar e as datas continuavam para o final de julho. O problema era que os ingressos ainda não tinham sido colocados à venda e nenhuma atração confirmada, e já estávamos em junho. Logo os rumores tomaram as redes sociais e, com essa repercussão, as declarações de pessoas que trabalharam na organização – que começou em 2021 – também surgiram.
CASO UCCONX: A THREAD FINAL
A thread de hoje vai revelar um esquema de quase 10 anos que já prejudicou centenas de pessoas.
foi apenas a gota d’água de um oceano que usa os eventos geek como uma mina de ouro em um esquema que dura anos. pic.twitter.com/YFjxEoj0c4
— Ygor Palopoli (@ygorpalopoli) August 1, 2022
Salários atrasados, promessas vazias e exploração foram algumas das denúncias feitas. “Eles faziam muitas promessas. Diziam que já tinha até um contrato fechado com o Chris Hemsworth”, comentou Hugo Melo, ex-funcionário a uma entrevista para o portal G1.
De acordo com as declarações, os salários pararam de ser pagos em novembro. “A desculpa recorrente é que o dinheiro estava em um fundo no Safra e que não conseguiam retirar”, diz Melo, que também afirmou que trabalhavam “sem horário para ir embora”.
Um detalhe interessante é que o evento tinha recebido um investimento de R$8 milhões de reais e os três donos na época apareceram “misteriosamente” com Porsches recém-saídos da loja (havia uma loja da marca na frente do escritório). Mera coincidência?
Para quem chamou o último post de “exagero” ou “fic”, aqui estão mais relatos de outras pessoas que também passaram por episódios similares. Essas histórias só não estão inundando as redes por medo e receio das testemunhas, mtas das quais inclusive já foram ameaçadas e coagidas https://t.co/JPZ0iVGtUa pic.twitter.com/Yt6cBi2RD0
— Hugo Melo (@hugoevmelo1) July 31, 2022
Um dos relatos mais impactantes foi o caso de uma mãe solo, que não recebeu o salário e precisava – literalmente – pagar para trabalhar não tendo renda. E o de outra funcionária que sofreu agressão física em uma reunião, após ser culpada por vários problemas.
Com tantas complicações e transtornos, os sócios decidiram vender o evento para a BBL, um grupo do mercado de games e eSports. A aquisição aconteceu em novembro – mesmo mês em que os ex-funcionários pararam de receber os salários –, mas segundo a assessoria do UcconX, “começaram a operar em fevereiro”.
Artistas convidados (e nem tão presentes assim)
Talvez como um jeito de “abafar o caso” e tentar recuperar o que restava de sua reputação, isso se houve alguma, o UcconX anunciou a vinda de grandes convidados faltando poucas semanas para o evento. Nomes como Millie Bobby Brown (Stranger Things) e George Takei (Star Trek) foram apresentados e, daí sim, os ingressos começaram a ser vendidos.
Em seguida, um nome que pegou a todos de surpresa foi o do ator Rupert Grint, o eterno “Rony” Weasley da franquia Harry Potter. A notícia da participação de Dacre Montgomery (Stranger Things) e Ian Somerhalder (The Vampires Diaries) veio depois.
Mas, novamente, teríamos reviravoltas.
Um dia após o anúncio de Dacre Montgomery e Ian Somerhalder, a assessoria do UcconX soltou um comunicado à imprensa sobre a ausência da Millie Bobby Brown e George Takei, alegando que ambos os atores contraíram COVID-19 e não poderiam comparecer.
Foi mais um motivo para o rumor do golpe ganhar força. Principalmente porque, no dia seguinte a esse anúncio, houve uma postagem nas redes sociais informando que a Millie Bobby não viria por conflitos na agenda e um “nosso social midia entendeu errado”.
Os fãs que compraram os ingressos para as atividades com a Millie Bobby, ao invés de terem a opção de ressarcimento, foram transferidos obrigatoriamente para as atividades com o Ian Somerhalder, que esteve no evento durante os dias 28 e 29 (quinta e sexta).
E, preciso dizer, os valores não foram baratos. O ingresso mais caro chegou a R$5 mil!
No caso do George Takei, não falaram nada a respeito ou desmentiram a questão do COVID, mas o ator fez uma participação virtual durante o sábado.
De bola de feno à meio cheio
O início do evento, dia 27, já se mostrou um fracasso total. As fotos do primeiro dia viralizaram nas redes sociais por sua falta de público e estruturas montadas pela metade, isso quando estavam montadas. Quase não haviam estandes para um espaço enorme.
Ian Somerhalder, a atração internacional da semana, foi recepcionado por uma dúzia de pessoas. Era nítida a insatisfação do ator que, dizem os boatos, veio apenas para não quebrar o contrato. Muitos dos fãs da Millie Bobby Brown decidiram boicotar e não ir.
No final de semana, com a vinda de Dacre Montgomery e Rupert Grint, a situação mudou um pouco. O Teoria Geek recebeu um convite para visitar o UcconX no último dia, domingo (31). E de um evento largado as traças, encontramos um “meio cheio”.
A falta de estandes e lojas escancarou o espaço grande e vazio, então, mesmo que houvesse mais visitantes do que na semana, ainda parecia um evento abandonado. Os cosplayers – incluindo os embaixadores citados no site – também estavam escassos, apesar do concurso rolando no palco principal. Foram poucos os que vimos transitando.
A arena game, apesar de bonita e com bons equipamentos, quase não tinha ninguém.
O half de skate recebeu um campeonato amador e esse foi um dos pontos altos. Os atletas eram excelentes e foi uma atração que deu gosto de assistir. Eles mandavam muito bem!
A área de cultura asiática consistia em um telão com os nomes dos países, que se resumiram a China, Japão e Coreia do Sul, onde o pessoal podia tirar fotos em paisagens. E haviam duas salas, uma de karaokê e outra que, sinceramente, não deu para entender.
A organização, por si só, foi um fiasco a parte. Os staffs eram, grande parte do tempo, antipáticos – não todos, vale ressaltar. Mas, considerando tudo o que aconteceu e o medo de não receber pelos serviços pairando, era compreensível o estresse do pessoal.
Logo, se o cenário já era ruim com todos as polêmicas e problemas durante a produção, no evento não foi muito diferente. O sistema de pagamento foi bastante incomodo, sendo necessário comprar um cartão ou pulseira exclusivos, e recarregar para consumir dentro do UcconX. Desde alimentação até produtos (os que sobreviveram).
A grande questão é que a burocracia para conseguir esse bendito cartão foi realmente esgotante. Nos jogaram de um lado para o outro, nenhum dos staffs sabiam exatamente onde comprá-lo. Demoramos quase meia hora para, enfim, achar o lugar. Se você, por algum acaso, não conseguisse achar… Bom, não seria capaz de fazer nada além de andar.
A parte do ‘Artists Alley’, que gerou discussão nas redes pela falta de estrutura, abrigou poucos – bravos e esperançosos – artistas no domingo. Das cem mesas, no máximo, dez foram ocupadas. Isso porque, dias atrás, os artistas se juntaram e decidiram não aparecer como forma de protesto ao tratamento que estavam recebendo da organização do evento.
Participação do ator Rupert Grint no UcconX
O anúncio do ator Rupert Grint, uma semana antes, surpreendeu a todos. Uma vez que ele é conhecido por não participar de evento e ser bastante reservado. O UcconX, pasmem, foi o primeiro evento presencial que compareceu – que jeito de começar, hein?
Das atividades pagas que foram planejadas com o ator, os fãs poderiam optar por: Meet&Greet; Fotos e autógrafos; e painel. O valor dos ingressos também bateu R$5 mil.
Nós estivemos no painel do ator e, apesar dos pesares, foi uma experiência bacana. O Rupert Grint foi simpático e respondeu às perguntas da plateia, sempre rindo e acenando.
Admito que a ‘Potterhead’ em mim, ficou muito feliz com a oportunidade. O painel durou aproximadamente quarenta e cinco minutos, e imagens do ator não foram permitidas.
Mas não teve UM ponto positivo?
Se podemos chamar o espaço vazio de ponto positivo, então, sim.
Como o movimento não estava grande, como é o caso da CCXP e da BGS, pudemos caminhar pelo espaço com tranquilidade e ver todas as atrações disponíveis de perto.
Algumas filas se formaram, mas eram rápidas.
As estruturas também eram bonitas e a ideia por trás delas seria sensacional, se a bola de neve não tivesse se formado antes mesmo de o evento começar. Os cenários para tirar fotos eram bacanas e alguns membros da equipe tornaram o ambiente descontraído, definindo bem aquela frase “as pessoas que fazem o rolê”. Porque foi o caso aqui.
Resumo da história
Mesmo tendo tudo para ser um bom evento, o UcconX deixou a desejar em diversos aspectos, especialmente o comprometimento com a equipe. Era desconfortável estar ali e pensar que muitas pessoas colocaram seus esforços para trazer uma experiência legal aos fãs de cultura pop e foram enganados com promessas de pessoas sem caráter.
Ou seja, o UcconX podia entregar muito, mas acabou entregando nada.
Apareceram notícias de que o evento foi bem aceito pelo público e rumores de que foi renovado para uma segunda edição em 2023. Se vai acontecer ou não, francamente, muito precisa ser melhorado. Sobretudo quanto as condições de trabalho da equipe por trás.
Terão que correr muito para reconquistar a confiança do público e sua reputação.
Em resumo, eles prometeram “o maior festival de cultura pop da América Latina” e conseguiram isso, mas não do jeito que esperávamos.
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