“Tin & Tina” | Confira nossa crítica

Tin & Tina capa

“Tin & Tina” (2022) é um complexo terror psicológico onde se mantém a dúvida com relação aqueles que usam a palavra sobre a fé e até que ponto podemos ou não confiar.

Ficha Técnica
Título: Tin & Tina
Ano de Produção: 2022
Dirigido Por: Rubin Stein
Estreia: 26 de maio de 2026
Duração: 119 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: Terror
País de Origem: Espanha
Sinopse: Após um trágico aborto, Lola e seu marido Adolfo adotam Tin e Tina, dois adoráveis irmãos albinos com uma educação ultracatólica que os faz interpretar a Bíblia Sagrada literalmente..

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Narrativa e Direção

Em tempos em que determinados setores conservadores usam e abusam do papel da religião para fazer o que bem entenderem fica cada vez mais difícil saber em quem confiar quando se usa a palavra de Deus. Por conta disso acaba se gerando certa desconfiança, paranoias e até mesmo descrença, seja com relação a qualquer religião ou com relação aos governos que usam a mesma para obterem seguidores cada vez mais afogados na palavra do senhor. “Tin & Tina” (2022) é um complexo terror psicológico onde se mantém a dúvida com relação aqueles que usam a palavra sobre a fé e até que ponto podemos ou não confiar.

Dirigido por Rubin Stein, “Tin & Tina” é um filme espanhol de terror e suspense baseado no curta-metragem homônimo de 2013, e que acompanha Lola (Milena Smit) e Adolfo (Jaime Lorente), um casal que sonha em ter filhos, mas está enfrentando algumas dificuldades. Após Lola sofrer um trágico aborto, os dois resolvem adotar Tin (Carlos G. Morollón) e Tina (Anastasia Russo), duas crianças de um convento que, à primeira vista, parecem adoráveis. Mas com o passar dos dias, o casal percebe que os filhos foram criados com uma educação ultracatólica, fazendo com que eles sejam obcecados pela Bíblia e interpretem cada texto em seu sentido literal.

Tin & Tina 01

É curioso observar sobre o ponto da história em que a trama realmente acontece, já que é início dos anos oitenta, época em que estava ocorrendo o ressurgimento da democracia na Espanha, mas ao mesmo tempo certos grupos militares queriam tomar o poder. Isso ocorre já na abertura do filme, onde o casal central está se casando, mas ao mesmo tempo a protagonista sofre um duro golpe, assim como o próprio país como um todo. Isso seria uma espécie de metáfora com relação ao estado de espírito dos espanhóis da época, onde lutavam pelos seus direitos, mas ao mesmo tempo enfrentando poderosos que até mesmo usavam a palavra da fé para controlar o povo.

Sendo assim Lola é uma descrente, tanto com relação a fé, como também ao sistema que governa aquele país. A partir do momento em que o casal decide adotar duas misteriosas crianças de um convento se tem a construção sobre a dúvida sobre as mesmas, já que ambas se apresentam como crianças puras, mas que ao mesmo tempo se apresentam embriagadas de acordo com relação ao que foi ensinado na igreja. É então que os realizadores constroem uma trama em que sempre ficamos na dúvida se elas agem com relação a fé ou usam a palavra para colocar para fora as suas vontades peculiares.

Tin & Tina

Rubin Stein dirige como ninguém esse filme, cuja cores quentes dos anos oitenta gera um certo contraste se comparado as duas crianças que não se encaixam dentro de uma sociedade movida por regras mais lógicas e que não temem sobre o que está escrito na bíblia. O filme pode ser interpretado tanto como uma crítica ácida contra a própria igreja, como também na possiblidade de convivermos com uma sociedade mais descrente e que talvez necessite em crer o que não se pode ver. Se revisto hoje o clássico “O Exorcista” (1973) pode ser interpretado dessa forma, aqui não é diferente, principalmente quando diversos momentos da trama nos coloquem na dúvida com relação ao comportamento das crianças.

Atuações

Vista recentemente em “Mães Paralelas” (2021) de Pedro Almodóvar, atriz Milena Smit dá um verdadeiro show de interpretação ao interpretar uma mulher descrente e ao mesmo tempo que deseja a sua liberdade em meio a mudanças de um país em metamorfose. Curiosamente, há um duelo interno com relação ao universo patriarcado, já que Adolfo não passa de uma geração de homens que deseja que as suas mulheres ficassem somente em casa, mas que não escondiam a sua fraqueza com relação em sustentar uma família como realmente deveria. Visto na cultuada série “Lá Casa de Papel” Jaime Lorente constrói para si um personagem que facilmente adoramos odiar, principalmente quando se revela um verdadeiro incompetente perante a sua mulher e com relação as reais intenções das crianças.

Neste último caso, ambas possuem um visual que nos amedronta, mesmo com um visual quase angelical, mas que gera um contraste com relação ao mundo real. Elas facilmente entram na galeria de crianças assustadoras do cinema, que vai desde ao que foi visto no clássico “A Profecia” (1976) como também no recente “Boa Noite, Mamãe” (2014). Porém, Tim e Tina nos passa quase sempre uma ambiguidade com relação as suas reais intenções e fazendo com que a gente até se irrite quando queremos uma resposta mais clara.

Mas o filme é assim como um todo, onde a dúvida se encaminha até o terceiro ato final e cujo papel das crianças sobre determinado ato catastrófico fica em aberto até o seu final. Neste último caso, Rubin Stein cria um dos planos-sequências mais surpreendes deste ano, onde caminhamos ao lado da protagonista em uma situação em que qualquer um levaria a loucura, mas cuja sua decisão se torna ainda mais inusitada. Vale salientar que esse momento também tem um pouco de pitada extraída do clássico “O Bebê de Rosemary” (1968) e cujo ambos os atos finais fazem com as suas protagonistas enfrentem os seus piores temores.

Veredicto

Com minutos que nos deixa mais dúvidas do que respostas, “Tin & Tina” é aquele filme de horror psicológico que não deve em nada aos demais dentro do gênero, pois a dúvida sobre o que ou em quem acreditar se torna ainda mais assustador do que enfrentar um monstro sobrenatural.

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