‘Tenho Medo Toureiro’ | Confira nossa crítica

Tenho medo Toureiro

Tenho Medo Toureiro fala sobre pessoas comuns, porém, que sofreram preconceito e perseguição independente de qual posicionamento político.

Ficha Técnica
Título: Tenho Medo Toureiro
Ano de Produção: 2020
Dirigido Por: Rodrigo Sepúlveda
Estreia: 15 de Outubro de 2020
Duração: 94 min
Classificação: 16 anos
Gênero: Drama
País de Origem: Chile, Argentina
Sinopse: Adaptação para o cinema do livro de Pedro Lemebel, talvez o escritor mais polêmico e transgressor que surgiu nos últimos anos do Chile sob Augusto Pinochet. Ambientado na primavera de 1986, com o controle perdedor de Pinochet do Chile, conta a história de La Loca del Frente, uma travesti envelhecido, solitário, loquaz e fisicamente miserável que mora em um bairro pobre de Santiago, ouvindo boleros para afogar o barulho de tiros e policiais lá fora. O romance narra paralelamente a história de amor entre La Loca e um membro da resistência armada a Pinochet que está preparando o ataque de verdade (vida real) de 1986 ao ditador, ao mesmo tempo em que relata o casamento sem alma de Pinochet.

 

Ditadura nunca mais

Augusto Pinochet foi um dos maiores ditadores da América do Sul. Assumiu o poder no Chile com um golpe em 1973 e por 17 anos liderou o Chile com mão ferro e perseguindo com violência os opositores ao seu governo. Socialistas, defensores da democracia, toda e qualquer possível ameaça ao seu poder era motivo para tortura ou morte. Foram em torno de 3 mil mortes e 40 mil pessoas torturadas ao longo da ditadura, que foi encerrado em 1990.

Não faltaram histórias vindo da oposição, que lutou contra esse tipo de governo durante anos no Chile. Porém, existem aqueles que ficaram neutros durante essa crise, mas não por covardia, mas sim porque já tinham certos problemas para lidar durante a vida. “Tenho Medo Toureiro” (2020) fala sobre pessoas comuns, porém, que sofreram preconceito e perseguição independente de qual posicionamento político.

Tenho medo toureiro

Direção e Narrativa

Dirigido por Rodrigo Sepúlveda, O filme é uma adaptação do livro escrito pelo chileno Pedro Lemebel em 2001, e narra uma história de amor impossível entre uma travesti idosa, e um jovem guerrilheiro que faz parte de um grupo revolucionário para assassinar Pinochet em 1986, durante a ditadura no país. La loca del Frente (Alfredo Castro) é uma travesti que faz parte de um grupo de gays e travestis. Durante um show, os militares invadem a boite e matam uma das integrantes. La frente mora em um cortiço na periferia de Santiago, e sobrevive fazendo pequenas costuras para madames simpatizantes a Pinochet.

Um dia, Carlos, um guerrilheiro, salva La frente de ser presa pela polícia, se fazendo passar por um casal hetero. La frente agradece a Carlos, e fica seduzida pela coragem e pela beleza do rapaz. Carlos pede um favor: que possa esconder caixas na casa de La frente que contém armas para poder assassinar Pinochet.

Lembranças de Almodovar

Ao assistir ao filme imediatamente me lembrou as primeiras obras do cineasta Pedro Almodóvar, sendo que os protagonistas quase sempre eram pessoas que lutavam por um lugar ao sol em meio a uma sociedade conservadora. Porém, as comparações param por aí, já que o filme toca em um assunto, por vezes, já muito explorado no cinema, sobre um Chile amordaçado perante um ditador que não media esforços em calar aqueles que eram contra as suas escolhas. Não deixa de ser simbólico, por exemplo, o cenário principal da história ocorrer em meio aos escombros após um forte terremoto, mas que simboliza um povo em meio aos destroços de um país partido ao meio.

A dupla central, aliás, são uma representação de dois lados da mesma moeda. Enquanto Carlos é o típico guerrilheiro romântico disposto a fazer algo a respeito, La Loca, por sua vez, se encontra em fase de cansaço, já que sua vida toda já foi uma luta para continuar sendo o que foi predestinada a ser em vida, mas cuja a sociedade em sua volta tentava modifica-la a todo o custo. Quando essas duas pessoas se chocam certa noite, se percebe que ambos têm muito em comum, mesmo quando convivem em trilhas completamente diferentes.

Veredicto

Embora arrastado em alguns momentos, o filme surpreende na construção dessa relação, sem nada apelativo, mas sim com toques humanos e onde os personagens revelam o seu lado mais puro. Tanto Alfredo Castro como Leonardo Ortizgris estão ótimos em seus respectivos papeis, sendo que noventa porcento do filme são os dois em cena e carregando a história nas costas com maestria. O final pode até ser previsível, mas não é também um filme para ser facilmente dispensável, pois nunca é demais assistirmos sobre tempos mais ditatoriais e que serve de exemplo para a geração de hoje que nunca conviveu com uma ditadura de verdade.

“Tenho Medo Toureiro” é sobre a diversidade e conhecimento tentando conviver em tempos nebulosos e cujo o futuro era extremamente indefinido.

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