Nos últimos meses, circulam muitos rumores sobre uma possível venda da Ubisoft — e ela realmente aconteceu, mas não do jeito que você imagina.
Após uma sucessão de fracassos, a situação financeira da Ubisoft ficou bastante delicada. Os acionistas passaram a pressionar pela saída da família Guillemot do comando da empresa. Para não sair de mãos vazias, Yves Guillemot iniciou uma negociação com a Tencent.
Em 2018, a Ubisoft já enfrentava tentativas de aquisição hostil e, para evitar ser comprada, realizou uma manobra no mercado financeiro em parceria com a Tencent. Desde então, outras empresas passaram a ter um limite de 10% na compra de ações da Ubi, o que garantia que o poder de decisão permanecesse nas mãos da família Guillemot.
Para contornar essa estrutura, a Ubisoft criou uma empresa subsidiária, que ficaria responsável por gerenciar as principais franquias da companhia como Assassin’s Creed, Far Cry e Tom Clancy’s Rainbow Six, operando de forma autônoma em relação à empresa-mãe.
Essa nova subsidiária foi financiada pela Tencent, que agora detém 25% das ações e tem a possibilidade de adquirir mais no futuro — podendo, eventualmente, se tornar a acionista majoritária e dona da nova empresa.
Em um e-mail enviado internamente, o próprio Yves Guillemot anunciou que seu filho, Charlie Guillemot, juntamente com Christophe Derennes, seriam os novos co-CEOs da subsidiária, batizada de “Casas Criativas”.
Confira o documento na íntegra:
“Olá a todos,
Estou escrevendo do estúdio de Montreal para anunciar oficialmente a criação da nova subsidiária que tem sido discutida nas últimas semanas.
Foi importante para mim estar próximo das equipes e talentos que contribuíram para a extraordinária ascensão das incríveis marcas Assassin’s Creed, Far Cry e Rainbow Six, que agora estão no centro desta nova estrutura.
Essa subsidiária faz parte de uma reorganização mais ampla da Ubisoft, que estruturaremos em Creative Houses. Ela é a primeira dentro de um novo ecossistema organizacional.
Eu queria uma dupla complementar à frente desta subsidiária, que garantisse a continuidade na Ubisoft e incorporasse a colaboração entre gerações.
Com isso em mente, tenho o prazer de anunciar que Christophe Derennes e Charlie Guillemot serão os co-CEOs desta primeira Creative House. Christophe é bem conhecido por todos vocês por sua vasta experiência, liderança prática, papel no desenvolvimento do estúdio de Montreal e impacto nos jogos criados lá. Charlie traz espírito empreendedor, profundo entendimento da dinâmica da inovação, uma paixão por jogos e o compromisso de colocar os jogadores e suas expectativas no centro da nossa abordagem — além, claro, da continuidade familiar que representa.
A missão deles será tornar essas três marcas referências globais em entretenimento em todas as plataformas.
Essa será uma co-liderança complementar, projetada para reforçar o foco e a agilidade: Charlie será responsável pelas três marcas — ou seja, pelo conteúdo dos jogos, pela direção e desenvolvimento das IPs, pelo marketing e pelo desempenho comercial.
A sede da nova entidade ficará na França, com Charlie gerenciando o relacionamento entre a França e o Canadá.
Você pode ler mais diretamente de Christophe e Charlie aqui.
Estou muito orgulhoso e emocionado com este marco fundamental na história da Ubisoft, justamente quando nos aproximamos do 40º aniversário da empresa. Este é o início de um novo futuro que se reconecta com o que torna a Ubisoft uma empresa verdadeiramente única — graças a todos vocês.
Em relação à nossa colaboração com a Tencent, ela assumirá uma forma semelhante à que temos com consultores de alto nível. Eles anunciaram recentemente a criação de uma equipe dedicada a essa missão. Christophe, Charlie e suas equipes se beneficiarão da orientação e expertise da Tencent, mas permanecerão totalmente autônomos para agir — ou não.
A estrutura das Casas Criativas é um dos principais resultados do trabalho do Comitê de Transformação. O ritmo é acelerado e estamos no caminho para atingir a meta de 100 dias até o fim de outubro.
Os objetivos dessa reorganização são ambiciosos: dar mais autonomia às equipes, aumentar a responsabilidade e permitir que possamos nos concentrar totalmente na criação de jogos excepcionais — jogos com os quais nos importamos, que moldarão nosso futuro e nos darão orgulho.
Nosso objetivo é criar Casas Criativas coerentes, cada uma refletindo os diferentes tipos de experiências de jogo que representam. Nosso portfólio é diverso e vasto, e essas estruturas trarão novo significado e escala humana a ele. Ao nos aproximarmos dos jogadores, conseguiremos focar ainda mais em nossos títulos e oferecer desafios empolgantes para todos. Essas Casas Criativas serão autônomas e totalmente responsáveis por seus resultados comerciais.
Esperamos compartilhar mais detalhes sobre essa nova estrutura até o fim de setembro.
Ao mesmo tempo, para apoiar a criação e o funcionamento adequado dessas Casas Criativas, foram criadas seis forças-tarefa: governança, gestão de desempenho, serviços essenciais para parceiros, planejamento da força de trabalho, RH e estratégia de branding. Cada uma contará com a contribuição das equipes e envolverá alguns de vocês de forma mais próxima nas discussões.
Esses avanços representam uma forte aceleração no nosso processo de transformação e, nos próximos meses, tornarão essas mudanças mais concretas e tangíveis. Enquanto isso, aqui estão as respostas para algumas das perguntas que vocês já fizeram — e eu os encorajo a continuar compartilhando novas dúvidas conforme surgirem.
Amanhã à tarde, Christophe, Charlie e eu estaremos com as equipes de Montreal em um encontro informal para celebrar a criação desta nova entidade — o primeiro passo de uma juventude renovada.
Obrigado a todos e desejo um ótimo verão.
Yves.”
