
Título: Rosa de Versalhes |
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Ano de Produção: 2025 |
Dirigido Por: Ai Yoshimura |
Estreia: Janeiro de 2025 |
Duração: 1h 54min |
Classificação: A12 |
Gênero: Romance, Histórico |
País de Origem: Japão |
Sinopse: No Antigo Regime francês, os caminhos da princesa Marie Antoinette e a comandante da guarda francesa Oscar de Jarjayes se entrelaçam enquanto a Revolução Francesa se estabelece. |
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Rosa de Versalhes adapta o notável mangá shojo de 1972 e sua trama gira em torno de Marie Antoinette, recém princesa e futura rainha da França, e a general andrógena da guarda francesa Oscar de Jarjayes durante o conturbado período de transição da monarquia francesa para a república, terminando na Queda da Bastilha.
Antes de tudo, é importante frisar o quão Rosa de Versalhes é notável em seu gênero. O mangá de Riyoko Ikeda começou a ser lançado em uma época em que shojos eram, em sua maior parte, escritos para crianças. A mudança de público-alvo do gênero para adolescentes e mulheres foi marcada por obras que lidavam com temas mais complexos, como política e ficção científica, além do estabelecimento de romances entre pessoas do mesmo gênero. Ikeda fazia parte de movimentos estudantis de esquerda durante a universidade e cresceu enquanto a Nova Esquerda Japonesa estava se estabelecendo. Esse contexto é necessário para entender os principais temas do mangá e o porquê de ele continuar popular 50 anos depois. Seus principais temas, o papel do gênero na sociedade e revolução populista, são o DNA da obra e se mantém relevantes até hoje.
Dito isso, o filme dirigido por Ai Yoshimura e animado pelo estúdio MAPPA não é a primeira adaptação do mangá e, provavelmente, não será a última. Anunciado em 2022, demorou mais do que esperavam para sair, já que o aniversário de 50 anos do mangá foi há 3 anos. Então, leva-se a pensar o que aconteceu na produção do filme para ele não ter muito do que deixa o material tão icônico além do estilo de arte.
Bonito como uma Rosa
Uma das únicas coisas que o filme faz bem com o material original é a animação. A MAPPA tem uma boa lista de adaptações, apesar de suas controvérsias, como o anime de Chainsaw Man e o excelente reboot de Ranma ½ que saiu em 2024, e Rosa de Versalhes, apesar de pecar em seus aspectos textuais, continua a tradição do estúdio em entregar uma versão moderna e bem apelativa do estilo do material original. Por boas poses de ação, bom uso de 3D e imitação do enquadramento do mangá faz o visual do filme quase pular da tela, principalmente nos visualmente bonitos, mas desapontes números musicais.
Toda Rosa tem seus Espinhos
Infelizmente, só a animação não salva o filme. O aspecto que mais o empobrece é a falta de desenvolvimento dos personagens, que quebra toda a estrutura que fazia Rosa de Versalhes ser ele mesmo. O anime tenta condensar um mangá em que se passam décadas em 2 horas, que já é uma duração grande para uma animação, que normalmente não passam de 90 minutos. Não só isso, como ele escolhe perder tempo precioso de tela com montagens musicais que são bem animadas, mas editadas e com músicas emulando aberturas e créditos genéricos de anime. É uma oportunidade perdida de fazer um musical mais tradicional com a história do mangá como já foi feito pela Takarazuka Revue, um grupo de teatro japonês só formado por mulheres. Esse tempo de tela perdido leva o desenvolvimento dos personagens ao pior nível pois os números musicais ruins são usados como esse desenvolvimento. Quando dois personagens começam a se relacionar, por exemplo, o tempo de relacionamento entre esses é todo deixado para apenas uma sequência musical, deixando o filme com uma impressão de estar abandonando muitos detalhes.
Esses detalhes faltantes que quebram os dois temas principais do mangá mencionados previamente. Os temas sociais e políticos do mangá não tem o mesmo impacto quando o tempo de Marie Antoinette ir de princesa inocente à aristocrata alienada são 20 minutos de tela. O mesmo acontece com as personagens, que tem suas emoções demonstradas bem diretamente nas sequências musicais ou só ditas em voz alta nos diálogos. O triângulo amoroso, algo bem comum em shojos, nem parece um triângulo, já que uma parte dele nem é desenvolvida.
Os temas de gênero também sofrem. Uma das principais características de Oscar de Jarjayes é a sua androginia. O mangá utiliza Oscar para encapsular tantas características de comportamento femininas e masculinas e contrastar com os homens e as mulheres da aristocracia francesa. Ela se diferencia da passividade de princesa de Marie Antoinette por causa de sua criação masculina, mas não tem a brutalidade e o ego inflado dos seus soldados da guarda ou dos membros masculinos da corte por causa do seu lado feminino. O filme demonstra essa diferença de maneira bem supérflua, normalmente com Oscar exclamando o que pensa da situação na hora. O que mais sofre nesse caso é o eventual interesse romântico de Oscar, que mal é desenvolvido durante o filme.
Em suma, o filme de 50 anos de Rosa de Versalhes não consegue se vincular a qualidade do mangá, apesar de o emular visualmente. É uma obra que poderia ter ficado melhor em formato de anime com 12 episódios ao invés de tentarem colocar tudo em um filme de 2 horas. O máximo que o filme faz de bom além da animação é poder inspirar o espectador a checar o mangá ou outras adaptações dele melhores, como o anime e o filme live action dirigido por Jacques Demy, de Guarda-Chuvas do Amor, os dois de 1979. Um mérito bem triste, mas um mérito de qualquer jeito.
Nota: