Essa série não é sobre hackers ou hacking e coisas do tipo, dizer isso seria como dizer que a saga “Rocky” é sobre boxe por exemplo, o que não é, Rocky trata sobre a vida. Mr. Robot trata de problemas mentais e, não apenas sobre a vida, mas como você a vive.
A parte da situação mental possui diferentes aspectos, Elliot Alderson é o personagem principal, desde o início a série já tomou uma decisão muito certeira, que é fazer com que nós, a audiência, sejamos a consciência de Elliot, que é fantástico, porque assim estamos dentro de sua cabeça e o tempo todo ele está conversando conosco, seja questionando, analisando e várias outras situações que seriam impossíveis se esse não fosse o caso. E considerando que Elliot tem múltiplas crises, existencial ou de ansiedade por exemplo, é muito interessante saber o que ele está pensando sobre o que está acontecendo e de quem.
SPOILER…
É ótimo nós sabermos a partir de sua perspectiva, nós não sabemos informações que ele não sabe, sim, nós vemos cenas que ele não está presente, mas não necessariamente partes essenciais para ele, há vários momentos em que pessoas ao redor dele sabem de coisas que Elliot esqueceu, mas nós ficamos no escuro assim como ele, tentando pensar em algo juntos. Isso da possibilidades que acabaram se tornando plot twists gigantescos para a história, que seriam principalmente relacionadas com a família de Elliot. Assim que ele beija Darlene e começou a agir estando irritada e furiosa enquanto Elliot não entendia o que estava acontecendo, assim que Darlene diz que ele esqueceu quem ela é, já dava para se esperar algo grande, mas não tão grande, o fato de que Darlene é irmã do Elliot e ela sabia disso o tempo todo assim como outros personagens enquanto nós não tinhamos a menor ideia muda tantas coisas, isso foi surreal e muito bem feito, nós poderíamos simplesmente voltar e assistir novamente que veriamos de uma maneira completamente diferente o relacionamento entre os dois, porém tanto quanto o seu pai. Sobre o pai dele, haviam algumas dicas do que realmente estava acontecendo aqui, eu suspeitei, por causa de alguns diálogos, primeiro, na sequência do píer, quando ele o empurra na água, também houve momentos em que era estranho como as pessoas ao redor reagiam com algumas de suas ações, porém em momento algum eu tive certeza, então quando eles finalmente mostraram a real situação foi como um golpe. Isso da muitas possibilidades para as próximas histórias com Elliot, ele pode ter esquecido sobre tantas coisas e considerando que seu estado mental pode alcançar tantos níveis diferentes dá muito potencial para próximas histórias.
As partes filosóficas também são gigantes e fantásticas, a série cobre vários pensadores, cultura em geral que fala sobre coisas muito boas, existencialismo por exemplo, em vários momentos nós discutimos com o Elliot se nós somos reais, o discurso final de seu pai foi muito forte, o que é real? O tempo todo nós estamos sendo expostos para com marketing, pessoas nos dizendo o que fazer, o que pensar e o que sentir sobre isso ou aquilo, o que é real? Nós se quer estamos nos controlando ou a “mão invisível” está? Nossas dívidas estão comandando nossas atitudes? Realmente somos livres? Essa série pode nos fazer questionar tanto e realmente colocar algum esforço em nós, nos fazendo se perguntar em que caminho realmente estamos.
Sobre os problemas mentais, foi muito bem feito nessa série, provavelmente perfeita, com certeza muita gente sofre com algo assim, Elliot possui tantas situações com a sua mente e você consegue ver de acordo com como ele age, as dúvidas, o medo, o não saber como falar em certos momentos ou como reagir a determinada situação de uma maneira que seja aceitável para os outros, alucinações falando com você e por você o tempo todo, fazendo coisas em seu lugar, o sentido de estar sendo seguido e observado o tempo todo, tudo isso está presente. Assistir a isso tudo me deixa bem confortável, eu vejo muito do Elliot em mim e acho que isso ajude bastante, acredito que várias outras pessoas se sentirão assim também.
Para que tudo isso funcionasse com êxito, como de fato ocorreu, era crucial ter um ator que fosse capaz de nos, e se, colocar na pele desse desafio e Rami Malek é perfeito até demais para o papel, ele nos faz acreditar completamente em todas as suas “doenças” e situações, nas dificuldades, traumas, da para perceber como sobrecarregado ele está por ter tanto em sua mente, a forma com que ele fala, anda, se mexe para cada situação, ele é perfeito de diferentes maneiras. Christian Slatter também é ótimo, ele tem uma maneira de falar e agir bem diferente da de Elliot, bem mais imponente e forte, o que é muito interessante considerando que eles são a mesma pessoa. Portia Doubleday por outro lado, não achei a atuação dela tão boa assim, ela sempre me parecia a mesma, suas expressões eram sempre iguais ou muito parecidas durante toda a temporada. Carly Chaikin está ótima, o seu jeito toda solta, não levando muitas coisas a sério, ela realmente leva alegria para a série, você vê que além disso também tem algo que a incomoda por trás de tudo.
A história como um todo é muito boa, os momentos com Elliot e sua família e mente, assim como suas missões são perfeitas, tudo funciona de maneira muito interessante e indagadora. Agora, os momentos sobre as empresas subindo e descendo, os crimes, Tyrell Wellick, não são ruins, mas também não as achei bem acertadas, me pareceu que houve alguma enrolação em alguns desses momentos, assim como uma hora ou outra a série acabou me perdendo por alguns segundos, mas ainda sim a série é ótima. O personagem Wellick talvez seja caricato demais, a princípio parecia que ele seria simplesmente a versão má do personagem principal, o que seria horrível, mas de acordo com que a história vai evoluindo e enredos se expandindo você vê que ele não é exatamente isso, porém não se torna tão diferente assim no final das contas.
A Primeira temporada de Mr. Robot é repleta de reflexão e questionamento, abordando temas profundos que são capazes de produzir grandes discussões, falando sobre diferentes áreas e sendo capaz de deixar pessoas parecidas com o personagem principal confortáveis, pessoas que se identificarem aqui e mesmo as que não com certeza terão muito o que pensar e aprender. Com atuações e uma história de ponta, é com certeza uma das melhores temporadas de apresentação que já assisti.
Ficha Técnica:
Formato: Série
Dirigido por: Sam Esmail
Produtores: Steve Golin, Chad Hamilton e Igor Srubshchik
Duração: 44 – 46 minutos por episódio
Emissora original: USA Network
ONDE ASSISTIR
Amazon Prime
Trailer legendado:
//www.youtube.com/watch?v=8qZYW_1hj2g