É, dessa vez a Netflix acertou! Promissor, filosófico e intrigante. Filme I am mother (Eu sou mãe) discute questões complexas da humanidade usando um futuro distópico como pano de fundo. Exibido no Festival de Sundance neste ano de 2019 e comprado para distribuição mundial pelo Netflix, a produção americana/ australiana I Am Mother é, sem dúvidas, um belo exemplar de ficção científica com conteúdo realmente chamativo.
Ficha técnica
Título Original: I Am Mother
Duração: 114 minutos
Ano produção: 2019
Estreia: 7 de junho de 2019
Distribuidora: Netflix
Dirigido por: Grant Sputore
Orçamento: Não informado.
Classificação: 16 anos
Gênero:Ficção Científica, Suspense
Países de Origem: EUA/ Austrália
Sinopse
Criada por um gentil robô a quem chama de “Mãe”, uma adolescente é designada para repopular a Terra depois de desastres que quase causaram a extinção completa da humanidade. Mas quando uma mulher desconhecida chega dando notícias alarmantes, o laço afetivo criado entre humano e robô fica ameaçado.
Atenção: esta análise NÃO contem spoilers.
Futuro distópico. Robôs sobrepujando-se aos humanos. Luta pela sobrevivência. Poucos recursos e possibilidades de escapatória da morte. Falta de explicação sobre a causa da extinção humana. Pois bem, o cenário anteriormente decrito está posto: você, caro leitor(a), já deve ter lido/visto/lembrado de diversos filmes e séries com a mesma proposta. E realmente quem pensar assim terá razão; “I am mother” parece não se diferenciar em quase nada dentro nesse subgênero da ficção científica, dado o fato de que a Netflix não tem produzido tantas obras boas assim, tendo mais errado do que acertado na opinião deste que vos escreve. Entretanto, o FINAL do filme vale toda a espera sonolenta que ele proporciona! Principalmente se você gostar de filmes que misturam ficção, filosofia, ética, família, drama, moral e esse tipo de coisa. O começo é bem lento, mais por um boa causa: ele é detalhista com razão.
Sempre reclamo que, ao ver esses filmes de ficção, principalmente os que envolvem apocalipses futuristas, falta conteúdo, roteiro e diálogo para os personagens, deixando muitas coisas à margem da interpretação do público. Quando isso é feito propositalmente para provocar o telespectador, até que tudo bem. O problema é que a maioria dos filmes da Netflix nessa área tem deixado mais a desejar do que com vontade de ver de novo. Para corroborar esse ideia, experiente ver (se tiver coragem, porque realmente eu não recomendo nenhum!) Anon, A gente se vê ontem (também de 2019), Cloverfield Paradox, The Titan, IO e Extinção: todos originais Netflix ou, pelo menos considerados como, devido ao fato de serem produções que não foram para as salas de cinema pelo baixo custo e alto risco de ‘flopar’ pela falta de enredo, roteiro, elenco e/ou efeitos interessantes. Caso você já tenha se aventurado por qualquer dessas porcarias acima mencionadas, além de receber os meus parabéns, receberá também a indicação de que I am mother é MUITO melhor.
Claro que salvam-se algumas coisas boas na Netflix como por exemplo Aniquilação (2018) ou Next Gen (2019), e arrisco dizer que, apesar de ter uma história mais fechada e utilizar poucos personagens humanos, I am mother figura entre esses melhores de ficção dessa rede de streaming. Esse vale a pena porque a história “vai para algum lugar”, dá um desfecho decente para os personagens, realmente usa o cenário para explicar questões filosóficas e morais. Não deixa aquele gosto amargo de pensar “Ah, mas que droga! Só perdi 2h da minha vida!” Aqui não: o roteiro é bem feito, as cenas mais paradas na qual a menina aprende algo e as de ação dela já de fora da base são bem ricas e exploradas. O visual futurista com drones e o ambiente desolador realmente foram bem pensados e demonstrados em tela.
Por vezes confuso, outras vezes um pouco lento, I am Mother me pareceu bem arrastado no começo, mas basta que você dedique um pouco mais de sua atenção para começar a juntar os pontos. A fotografia e ambientação ajudam para que você se envolva em um mundo tecnológico, e faz refletir sobre a plausível possibilidade de algo semelhante nos dias atuais. Este é um filme recheado de elementos sci-fi, que instiga o telespectador a entender o que está tentando ser dito pelas entrelinhas. A narrativa se aventura em abranger o tema da moral e ética do ser humano por um viés mais particular que é a família e, ao mesmo tempo, a autodestruição, seja de forma física ou psicológica, mas isto ainda consegue ser apenas a premissa para algo muito maior, que vai exigir a sua atenção durante todo o filme.
E nada melhor que um clima tenso, para proporcionar que a narrativa siga uma linha de suspense, que nos faz ansiar pelo desfecho final com mais atenção, deixando algumas lacunas DE PROPÓSITO para que o telespectador analise a questão moral que é posta em cheque pelo roteiro. Duro, intenso e realista em suas provocações: I am mother é muito mais do que só uma ficção científica sobre apocalipse.
Como o filme possui, basicamente, apenas duas personagens de carne e osso e um dróide (os outros são apenas crianças, bebês e o ator que faz a captura de movimentos), segue abaixo minha análise rápida da atuação destes mais importantes.
“Filha” (Clara Rugaard): protagonista do filme. É a que mais aparece em cena, junto com a personagem “Mãe” (dróide). Ela está muito bem. Ela conseguiu captar a noção exata do que é ser uma humana que cresceu sem a presença de outros humanos, sendo alimentada e educada, exclusivamente, apenas por um robô após a extinção da humanidade. Aquele ar de dúvida, de solidão, de ainda carregar resquícios humanos apesar de toda a ambientação pessimista que o futuro a reservou ficou bem bacana, bem atuado ao meu ver. Os primeiros 30 minutos praticamente são apenas com ela, seu processo de aprendizagem e com a mãe de criação dela robô.
“Mulher” (Hilary Swank): apesar de ser, de longe, a maior e mais famosa atriz desse filme, ela aparece bem pouco, porém não faz feio. Suas aparições e falas, mesmo que rápidas, são bem feitas e convincentes. Ela faz o contraponto humano na história. Quando ela surge como sobrevivente (isso não é spoiler, está nos trailers), a personagem Filha fica cheia de dúvidas e quer ajudá-la, já que, até aquele momento, nunca havia visto uma outra pessoa de verdade em sua frente.
“Mãe”, personagem dróide, voz de Rose Byrne e movimentos de Luke Hawker: É difícil analisar a atuação de um robô no filme, mas, nesse caso, não tenho outra alternativa: ela é personagem central da trama e ficou muito bem caracterizada, tanto no visual, quando na dublagem da atriz Rose Byrne, com uma voz doce e tenra. O visual da robô lembra um pouco um outra máquina: o robô do filme sulafricano Chappie. Ela tem luzes azuis bem brilhantes e um design metálico cromado. A feição tem círculos e um traço na face, rememorando um rosto humano, para facilitar a compreensão dos personagens e de nós em relação às feições dela, o que eu achei bem legal!
Criativo, instigante e que nos faz pensar: I am mother é extremamente recomendável. Apesar de ser cansativo e “meio paradão” no começo, sua trama vai se aprofundando e termina bem explicada, com questionamentos bastante interessantes a respeito de família, saudade, solidão e o papel dos pais na criação e comportamento dos filhos. O filme possui pelo menos umas 2 ou 3 viradas na trama bem criativos e surpreendentes. Divirta-se!
Confira o trailer
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