Após a trilogia de westerns feita com Clint Eastwood, Leone queria fazer filmes de outros gêneros, porém o estúdio queria que ele fizesse mais um western. Leone concordou, porém somente se ele tivesse total liberdade para fazer o que quisesse com os atores que quisesse, ele trouxe Bronson e trouxe Henry Fonda e então resultou na obra-prima nomeada “Era Uma Vez no Oeste”.
Nome Original: Once Upon a Time in The West
Direção: Sergio Leone
Roteirista: Sergio Donati, Sergio Leoni, Dario Argento e Bernardo Bertolucci.
Cinematografia: Tonino Delli Colli
Edição: Nino Baragli
Sinopse: Em virtude das terras que possuía serem futuramente a rota da estrada de ferro, um pai e todos os filhos são brutalmente assassinados por um matador profissional. Entretanto, ninguém sabia que ele, viúvo há seis anos, tinha se casado com uma outra mulher, de Nova Orleans, que passa ser a dona do local e recebe a proteção de um hábil atirador, que tem contas a ajustar com o frio matador.
Algo que nesse filme se destaca muito, é a direção mais do que apurada de Sergio Leone, após outros westerns já consagrados do diretor, Leone aqui chega no nível mais alto de direção em um filme, para exemplificar isso, vou falar sobre o prólogo do filme, que por si só já se garante, o prólogo poderia ser uma curta metragem e já seria um dos melhores westerns já feitos.
Prólogo…
O diretor aqui vai com muita calma e leveza, sem pressa, começamos em uma estação de trem com 3 homens se aproximando do senhor que cuida do local, sem precisar de uma palavra, já se entende o que querem. Desde o início o som já é muito presente, o design de som aqui é de qualidade altíssima, os sons simples que você escuta, desde a porta se abrindo, o moinho de vento rangendo, o mosquito, a água no chapéu, a locomotiva ao fundo, tudo isso é feito de maneira tão sutil e calma que a cada segundo você se sente mais dentro daquele local, a cada momento o local se torna mais real para quem está assistindo. Até os 3 homens esperando Charles Bronson sair da locomotiva e todo o decorrer daquela cena é super memorável e incrivelmente bem feito, você sente a tensão em cada respirada, com frases de efeito, o silêncio, a marca do personagem, que é a gaita, já é deixada bem clara e sua conclusão também já deixa muito bem claro do que o nosso protagonista é capaz. Um dos melhores prólogos do cinema, sem sombra de dúvidas.
O filme como um todo é dirigido tão bem quanto esse prólogo, os sons nele são muito importantes, desde o protagonista, que o som da sua gaita diz muito, como um outro personagem diz “ele toca quando deveria falar e fala quando deveria tocar”, o som da Gaita é de uma forma uma parte de seu caráter e o som que sai dela é com certeza uma metalinguagem do quão sombrio ele é, é um som amargo, grosso, dá pra sentir o ódio somente pela música da gaita que é refletido pelo caráter do personagem, que acaba sendo nomeado por outro personagem graças ao som, tocarei nesse assunto novamente quando for falar sobre a trilha sonora. Além disso os sons dos tiros são quase ensurdecedores, assim como sons de portas se abrindo, de passos, da locomotiva, tudo é muito presente, quase como um personagem. No filme você sabe que qualquer um pode morrer, que tem sempre alguém a espreita, sempre alguém preparado para atacar por trás, vigiando, sempre há “algo nas sombras” aqui, ou pelo menos é o que você sente, é uma sensação inquietante, você nunca sossega. Assim como fez em outros filmes antes, Leone dá uma importância nos olhos dos personagens, nos olhares, são olhos muito vivos, sempre procurando por algo ou focados em um ponto específico, é um detalhe interessante a se notar, tanto para com os atores e o diretor.
A história do filme é feita na base do mistério, de inicio não temos ideia de quem são essas pessoas ou o que elas fizeram ou fazem, vamos indo às cegas, e aos poucos o enredo vai revelando o que está acontecendo da mesma maneira com o que o diretor leva o filme, de maneira calma e sem pressa. A trama principal é a de Charles Bronson, que está em busca de Frank (Henry Fonda) por motivos que só vamos conhecer ao final do filme, o personagem vai brincando e se relacionando com o outro, que assim como nós não faz ideia nem de quem é e nem do que quer, quando chega no momento da revelação é uma sensação de ódio, é algo sujo e você puxa o gatilho junto com o personagem. Além dessa trama principal, digamos assim, tem a parte da família McBain, com Jill (Claudia Cardinale) em foco, a maneira como as histórias se entrelaçam é bem inteligente, o enredo vai se juntando e explicando sutilmente ambas as partes que são muito intrigantes. O filme possui sequencias de ação em trens e na cidade que são muito criativas, diferentes e ao mesmo tempo secas, bem reais, e mostra a sujeira interior do velho oeste, além de ter diferentes situações de diálogos intrigantes, confrontos por conversas e diferentes situações de enfrentamento.
Ennio Morricone é o responsável pelas trilhas sonoras desse filme, e elas são simplesmente incríveis em vários sentidos, não somente pelo toque leve em alguns momentos, um toque sarcástico, ou momentos que você diz “tem algo errado aqui, algo está para acontecer”, ou até mesmo quanto ela colabora com o sentimento de vingança, faz você apertar a mão com mais gosto anda. Mas além disso tudo, o som da gaita é genial, ela fala muito, somente com ela você consegue pegar o rancor do personagem, a “Harmônica” tocada é seca, crua e você entende muito bem do que se trata, além de que um pistoleiro fazer a sua própria trilha sonora já é algo pra lá de épico.
Este filme não só acaba sendo um dos melhores westerns já feitos, porém também um dos melhores filmes. Um filme de 1968 com 3 horas de duração que assistindo nos dias de hoje passa voando e com um toque de direção e atuação que não se vê muito, ainda mais nos filmes atuais, uma sutileza e calma para prosseguir com a história, uma trilha sonora de deixar qualquer um boquiaberto e uma das vinganças mais memoráveis do cinema pela sua construção e sequencias criativas. Obra-Prima.
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