RESENHA | Filme: Dolemite Is My Name

Dolemite is my name, recém lançado pela Netflix, é uma ótima novidade para esse fim de ano. O filme dá protagonismo a um Eddie Murphy divertido e revigorado no papel de um comediante/músico dos anos 70,  juntamente com Wesley Snipes de coadjuvante, ambos dando um show de atuação numa obra cheia de bons diálogos e de figurino impecável.

Com história jocosa, brega e ao mesmo tempo dramática, o filme Meu nome é Dolemite traz de volta à boa forma o tão aclamado Eddie Murphy que conhecemos dos filmes dá década de 80 e 90. Ele consegue ser exagerado sem soar piegas e, de lambuja, Wesley Snipes parece que conseguiu, finalmente, um papel que o colocasse de volta ao panteão dos grandes astros em Hollywood.

Ficha técnica

Título Original: Dolemite Is My Name (Meu nome é Dolemite)
Duração: 118 minutos
Ano produção: 2019
Estreia: 25 de outubro de 2019
Distribuidora: Netflix
Dirigido por: Craig Brewer
Orçamento: Não divulgado
Classificação: 16 anos
Gênero: Comédia
Países de Origem: EUA

 

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Sinopse: Vendedor de discos em uma loja pequena e comediante de pouco sucesso, Rudy Ray Moore vê sua vida mudar quando começa a ouvir as histórias das ruas para renovar seu repertório, inserindo piadas sujas e repletas de palavrões. Não demora muito para que ele faça imenso sucesso, migrando o sucesso nas casas de show para discos extremamente populares, entre a população negra norte-americana. Decidido a ampliar seus horizontes, Rudy decide rodar por conta própria um filme estrelado por seu alter-ego Dolamyte, um cafetão bom de briga que sabe lutar kung fu. O que ele não imaginava era que fazer cinema fosse algo tão complicado quanto conseguir que seu filme seja exibido em circuito comercial.

Para entender melhor esse filme, é preciso levar em conta um fato histórico relevante para ele: o Blaxpoitation. Com um nome que já comunica a que veio, unindo black (“negro”) e explotaition (“exploração”), os filmes blaxploitation eram protagonizados e realizados por atores e diretores negros e tinham como publico alvo, principalmente, os negros norte-americanos.

Shaft, dirigido por Gordon Parks lançado em 1971 com orçamento da MGM, foi o filme que mais se popularizou no gênero (inclusive eu fiz a crítica do mais recente lançado esse ano e também disponível na Netflix). Outros clássicos da blaxploitation são: Sweet Sweetback’s Badaaass Song dirigido por Melvin Van PeeblesBlack Caesar dirigido por Larry CohenCoffy, Blacula Cleopatra Jones, em 1977, o filme Black Samurai também foi destaque, entre outros.

As trilhas sonoras dos filmes blaxploitation eram compostas por músicos, arranjadores e produtores musicais consagrados da musica negra norte americana como Curtis Mayfield, Isaac Hayes, James Brown, Quincy Jones, Barry White e Marvin Gaye.

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Esse movimento/estilo foi uma contraposição à Hollywood clássica, digamos assim, onde diretores e atores brancos dominavam o mercado e filmes com personagens negros ou sobre histórias de racismo e opressão eram meio que deixados de lado do mainstream.

Dada a configuração histórica acima, vamos ao filme: Meu nome é Dolemite é muito bom! O figurino, a ambientação e as atuações são todas de boas pra excelentes. Eddie Murphy faz sua melhor atuação em muito tempo (se não for a melhor de todas de sua vida!).

Mas quem foi Dolemite? Rudolph Frank Moore, mais conhecido pelo nome artístico de Rudy Ray Moore (Fort Smith, 17 de março de 1927 – Akron, 19 de outubro de 2008), foi um ator, comediante, produtor e cantor americano. Era um pioneiro do humor sexualmente explícito e do gênero de filmes blaxploitations. Talvez, mais conhecido pelo seu personagem e alter-ego “Dolemite” (cujo nome vem do mineral dolomita), um cafetão articulado e dono de boate, com habilidades no kung fu. Com o personagem, que criou na década de 70, Moore estrelou quatro filmes.

Não posso me esquecer da atuação de Wesley Snipes: depois de estar sumido da grande mídia (o ator ficou preso durante um bom tempo por problemas com o fisco americano), aqui ele faz o papel de um ator negro que fazia grande sucesso na época. O mais interessante é perceber que os papeis parecem que foram escolhidos propositalmente para os dois: Eddie Murphy faz um comediante e músico (sim, ele já foi músico e gravou até com Michael Jackson!) bem bonachão, bom vivant, com falas exageradas, rápidas e grandes tiradas o tempo todo. Dá pra lembrar um pouquinho de sua boa fase em filmes como “Um príncipe em NY”, “Trocando as bolas” ou em “Um tira da pesada” onde o ator tem espaço para fazer sua personagem brilhar com boas  tiradas cômicas e aquele sorriso indefectível que é sua marca.

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Diálogos engraçados, tocantes e ridiculamente bem inseridos dão o charme que o filme precisava: como é bom ver um filme da Netflix bem feito. 70% desse filme, assim como de quase todos os bons, se deve muito à qualidade do roteiro. Os outros 30% eu colocaria na conta dos personagens, na atuação de Murphy que carrega o filme e no figurino. Divertido e sagaz, Dolemite is my name merece sim uma indicação ao Oscar como muitos críticos e resenheiros apontam por aí: também estou nesse time. Eddie Murphy poderia retomar sua carreira a partir desse filme e uma indicação ao Oscar seria o crème de la crème pra ele.

Apesar do mote central ser sobre um ator/músico/cafetão que fez sucesso remando contra a maré do mercado fonográfico e cinematográfico com boas pitadas de comédia,Dolemite is my name pra mim é, no fundo, um documentário biográfico travestido de filme de drama. Não que isso tire o valor da obra, apenas digo isso ao lembrar de outros filmes que, mais recentemente, fizeram grande sucesso ao falar de artistas da música como o do Queen/Fred Mercury e Elton John. Dolemite is my name dentro desse raciocínio, é um justo contraponto.

O que torna Dolemite tão interessante é justamente essa ambientação da época e esse processo de Dolemite em se tornar famoso, mesmo tendo uma cultura cinematográfica tão elitista e uma sociedade tão racista como foi a americana no século passado.

 O contexto, apesar de quase surreal, trata de um personagem extremamente carismático do ponto de vista do entretenimento e da atuação. Sua história é, ao mesmo tempo, cômica e dramática.

Ainda bem que Roma foi lançado oficialmente em 2018. Assim, dá pra arriscar colocar, tranquilamente, Dolemite is my name como o melhor lançamento da Netflix nesse ano de 2019.


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