RESENHA | Filme: Da Terra Nascem os Homens (1958)

Esse é um filme de velho oeste, onde as coisas não seguem muito bem o padrão de filmes do gênero, temos um protagonista bem diferente, em que o roteiro consegue coloca-lo em uma posição perante a audiência e os coadjuvantes e em determinado momento, com construções de diálogos e ações, dar uma volta completa e fazer nós, a audiência, assim como os outros personagens do filme se sentirem constrangidos por terem julgado o protagonista de determinada maneira. Além de ter uma história de disputa de território em que não há lado certo e errado, somente famílias brigando por território que acreditam ser delas e seguindo líderes, conflitos com desenvolvimento de ponta e uma conclusão de se exaltar, justamente pela qualidade da construção até ali.

Nome Original: The Big Country
Direção: William Wyler
Roteirista: Jessamyn West, Robert Wyler, James R. Webb e Sy Bartlett
Cinematografia: Franz F. Planer, ASC
Edição: Robert Belcher, John Faure, Robert Swink
Sinopse: Um capitão da marinha se aposenta e vai ao Texas para se casar com sua noiva, Pat Terrill, cujo pai está envolvido em uma luta cruel sobre os direitos de água para o gado. Porém, o mau comportamento de Pat o leva a mudar de ideia sobre o casamento.

 

Em filmes de velho oeste, muitas vezes temos um protagonista que se acha o maioral, que exibe suas habilidades em público e não gosta de resolver as coisas na base da bala, mostrando como ele é o bonzão e porque não devem mexer com ele. Em “Da Terra Nascem os Homens” temos uma visão bem diferente de um protagonista do gênero, não porque ele não possui essas características acima, porém porque não quer demonstrar para ninguém, ele não precisa se provar para nenhum outro personagem, ele só deve satisfação a si mesmo e está ao máximo tentando evitar confusões e sempre leva situações na lábia, mesmo tendo condições mais do que suficientes para resolver nos métodos de força bruta e bala, porém ele não precisa. Ele se chama James McKay e é interpretado por Gregory Peck.

E a partir daí vem a genialidade do roteiro do filme, primeiro que não estamos necessariamente esperando o tipo de protagonistas maioral e bonzão, porém a história coloca o personagem em situações severas, que deixam você irritado e com ódio e, em um primeiro momento, mais irritado ainda pela falta de reação do personagem, e você mesmo pode acabar pensando em algo do tipo “Que cara bundão, que atitude covarde” pela falta de reação e defesa do protagonista, ou situações bobas que ele pode parecer ter medo, e o telespectador inicia pensamentos contra o seu protagonista, pensando que ele é, de alguma forma, um covarde, um fraco, pensamento semelhante ou igual ao dos outros personagens do filme, que o ofendem pela falta de reação e o chamam de covarde.

PORÉM… com o decorrer da narrativa, vemos que as coisas não são bem como parece, aos poucos nós vamos vendo o personagem tomar as atitudes necessárias para se provar e para se defender, mas sem público, ele não precisa de um público para se gabar ou para se provar, somente si mesmo e seja lá quem for parte do assunto. Em alguns momentos outros personagens do filme vão descobrindo isso e se surpreendendo, assim como nós, o público, o personagem não só consegue fazer o que é necessário, como sempre mantém o respeito e cordialidade, independente da situação. Com o decorrer do filme alguns diálogos acontecem entre pessoas que achavam que o protagonista é um covarde e é nada mais, nada menos que um “tapa na cara”, e nós que também pensávamos o mesmo sobre ele, sentimos o mesmo tapa, é uma reviravolta mental entre personagens e público perfeita.

A lição da história acaba sendo sobre o personagem que é o maioral, porém ele não humilha e não se exibe para ninguém, nem o mínimo possível, se você é bom em algo ou na vida de maneira geral e realmente acredita em si mesmo, não precisa se sobrepor contra ninguém, nem dar satisfação para os outros e muito menos provar algo para alguém além de si mesmo. Essa é uma liberdade, sabedoria que poucas pessoas alcançam.

O filme é bem longo, possui quase 3 horas e uma boa parte dele é bem lenta e chega a ser cansativa em alguns breves momentos, uma parte desta lentidão e calma é fundamental para conhecermos o protagonista, James McKay, porém em alguns momentos acredito que se arrasta de uma maneira desnecessária que se torna cansativo, mas nada que perdure ou estrague. Mais da metade se trata de apresentar os personagens e fazer o publico entender o caráter e ponto de vista de cada um, e um pouco mais adiante o conflito que leva a história adiante. Duas famílias disputam terras. A princípio parecia um filme genérico de bem x mal, porém aos poucos vamos conhecendo as famílias, primeiro a família de Patricia Terrill, noiva de McKay e de início parece ser a família perfeita que precisa lidar com os inimigos que querem tomar sua paz, os Hannassey, e o filme os vai vilanizando por um bom tempo, até que nós finalmente temos a chance de conhecer as coisas pelo ponto de vista dos até então “vilões” da história, e com um desenvolvimento de ponta, sútil e inteligente nós vemos sem precisar descaracterizar ou desconstruir o que a história já havia feito, percebemos que as coisas não são bem como parecem, não há necessariamente um lado bom e um mau, há escuridão e luz de ambos os lados.

Após a apresentação dos personagens e do contexto da história, o filme começa a desenvolver o conflito entre as famílias, começamos a entender qual realmente é o conflito, não entendemos a sua origem, mas fica esclarecido o porque dela continuar até hoje. A narrativa exemplifica o que uma faz contra a outra e qual os meios de cada uma para atacar a família oposta, sendo diretamente ou indiretamente, um conflito que atravessa gerações. O desenvolvimento desse conflito até chegar no seu clímax é, não necessariamente mais rápido, porém mais dinâmico do que o de McKay, temos sequências longas de diálogo e ação, e aborda temas de maneira mais diligente.

A família Hanessey mora em um local mais isolado e mais pobre em relação a cidade principal do filme, moram em uma pequena e simples vila, comandada pelo pai da família, o Rufus Hanessey que é interpretado pelo excelente Burl Ives, a atuação dele é sensacional, a atuação dele se destaca em relação ao resto do elenco, ele é imponente com a voz e postura e em vários momentos, principalmente com o seu filho e com McKay consegue mostrar diferentes emoções sutilmente e mantendo presente a honra que o personagem tem apesar de tudo.

E temos a família de Terril, noiva de McKay, uma família que a princípio é boa e sem problemas, porém com o decorrer da história vemos que não é bem o que parece, a falta de confiança de alguns personagens dentro do círculo, a necessidade de aprovação e a noção de superioridade mostra como eles não nada perfeitos.

No 3° ato finalmente temos o conflito entre as famílias e o filme o realiza com muita classe, junto com McKay intermediando as sequencias tentando ajudar e solucionar sem ocasionar nenhuma morte ou briga, porém as coisas não vão como ele espera e uma sequencia de fatos cheia de surpresas seguem. Evitando qualquer spoiler, o melhor que posso dizer é que é um final de bater palmas, a construção de cenário, a geografia da situação, honra e coragem, trilha sonora, tudo vem à tona e com a construção feita até aqui de todos os lados desse conflito fez com que fosse um final mais do que memorável.

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