E aqui estamos nós, com mais uma série original da Netflix, com bons momentos a série merece ser assistida, mesmo deixando a desejar em alguns momentos, tem potencial para evoluir.
Ficha Técnica: Chambers – 1ª Temporada (Original Netflix)
- Título Original: Chambers
- Duração: 439 minutos
- Ano produção: 2019
- Estreia: 26 de abril de 2019
- Distribuidora: Netflix
- Dirigido por:
- Orçamento:
- Classificação: 16 anos
- Gênero: Terror
- Países de Origem: EUA
Sinopse:
Uma jovem sobrevive a um ataque cardíaco e começa a investigar quem doou para ela seu novo coração. Quanto mais ela se aproxima da misteriosa morte da sua doadora, mais ela começa a perceber em si características da antiga dona do seu coração. Como se já não bastasse esses sinistros novos aspectos de sua personalidade, Nancy, a mãe da doadora, ainda a procura buscando forjar uma relação.
Na série Netflix Chambers conhecemos Sasha Yazzie (Sivan Alyra Rose), uma garota que, após sofrer um ataque do coração e ter seu órgão transplantado, começa a ter estranhas visões.
É comum que transplantados comecem a sentir uma ligação espiritual com o doador e com a família, mas é geralmente algo relacionado ao sentimento de gratidão. A série Chambers leva isso a um nível totalmente diferente ao colocar a protagonista recebendo estranhas e perturbadoras visões que atribui à falecida.
Com coisas estranhas começando a acontecer ao seu redor, Sasha decide desvendar o mistério que envolve sua doadora, Becky Lefevre (Lilliya Scarlett Reid), fazendo com que nós passemos a duvidar de tudo e de todos.
Terror psicológico de Chambers
Depois de Aurora: O Resgate das Almas, a Netflix inseriu Chambers em seu catálogo no intuito de aumentar seu repertório de thrillers psicológicos. Chambers tem um estilo místico que nos faz mergulhar de cabeça, sem pensar duas vezes.
Sasha, após o transplante, sente que há algo diferente nela. É claro que isso poderia soar óbvio (“dãã, é um novo coração”), mas o que ela sente é mais profundo. Uma conexão com a doadora que só aumenta depois que ela conhece a família Lefevre, ou seja, os pais e irmão da falecida doadora, Becky.
Essa aproximação traz à tona algo que estava guardado em Sasha (ou melhor, no coração que Sasha recebeu). Levando isso para o lado sobrenatural (que é a intenção da série Chambers), é como se o espírito de Becky estivesse preso dentro da protagonista, e quisesse desesperadamente dizer algo. Durante os primeiros episódios, fica apenas parecendo que é um mistério relacionado a possessão. Mas à medida que a trama evolui, vamos notando que tem muita sujeira em baixo do tapete – mais especificamente, os tapetes da Fundação Anexo.
Becky, no fim das contas, não está tão morta como parecia. Eventualmente, além das lembranças e visões, Sasha se vê com cabelos loiros crescendo, e a pele empalidecendo. Isso certamente é estranho o bastante para que Sasha decida entender esse mistério. E é exatamente esse mergulho nas verdades de Becky que faz com que ela se afaste cada vez mais de si mesma. É esse afastamento investigativo (que se distancia dela mesma, mas se aproxima de sua doadora) que faz com que as mudanças de Sasha sejam tão profundas.
Para quem ama um bom mistério (tal qual vimos em Tijuana, Areia Movediça, O Sabor das Margaridas e tantos outros), a série Netflix Chambers é um prato cheio.
Lento, mas devastador
Chambers tem um ritmo que, em alguns episódios, parece que as coisas não avançam muito. Mas, quando as revelações chegam, é como uma overdose emocionante para nós, fazendo com que queiramos mais.
Tem bastante dos estilos antigos de terror e suspense neste novo original Netflix. Quem é da época de “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” vai se sentir familiarizado. No entanto. Chambersvem com uma interessante proposta de terror psicológico e sobrenatural que faz com que não tenha nada a ver com o exemplo acima. Isso sem falar que as cenas “gore” são impressionantes e fazem bem o papel de chocar quem está assistindo (em um nível leve, pois é um terror para as massas).
A narrativa mescla a vida de Sasha com os últimos momentos de Becky, e sentimos junto das duas a agonia da busca por uma vida normal.
Dinâmica social e identidade em Chambers
Além de tudo isso, a série Netflix Chambers também acompanha uma interessante dinâmica social, mostrando as diversas diferenças entre Sasha e Becky. Coisas como rico/pobre e branco/indígena são as mais perceptíveis (as cenas da série estão situadas no Arizona, perto de uma reserva Diné, e muitos dos personagens principais são indígenas).
A história de Chambers tem bastante a ver com a ideia de assimilação. Afinal, Sasha começa a se preocupar, vendo que seu novo coração a está transformando em outra pessoa. Aos poucos ela começa a passar por uma experiência perturbadora de dupla consciência, e seu próprio mundo começa a se confundir com o da falecida.
Essa perda gradativa de identidade sussurra em nossos pesadelos muitas vezes. A mera ideia de deixarmos de ser quem somos é assombrosa, e Leah Rachel, criadora da série Netflix Chambers, soube explorar bem isso não apenas com a protagonista Sasha, mas também com a própria Becky, que estava correndo o risco de deixar de ser ela mesma (não falarei mais sobre isso senão darei spoilers).
De Sasha… para Becky
Além da perda da identidade em si, parte do terror de Chambers Netflix tem a ver com a diferença de cultura e do modo de vida com que Sasha se depara. Imagine a situação: não bastasse ela estar se tornando outra pessoa: ainda por cima uma pessoa de diferente etnia e classe social.
A mudança que ela sofre, desde o início da série (quando é alegre, despreocupada e cheia de amigos) até os episódios seguintes (quando o estresse e cansaço começam a dominar) é bem clara. Isso é a Becky surgindo aos poucos. As habilidades que ela começa a demonstrar, os gostos musicais que vão mudando, nada disso é Sasha. É tudo influência de Becky.
E tem também a bolsa de estudos e a aproximação da família Lefevre, que afirma que ter Sasha por perto é como ter Becky de volta. Todo esse acompanhamento escolar VIP, as aulas de esgrima e tudo o que poderia outrora ser visto como presentes maravilhosos, acabam se tornando o pesadelo da protagonista da série Chambers, já que é como se fosse um ritual para trazer Becky Lefevre de volta.
Bom, no fim descobrimos que a banda toca por aí mesmo, não?
É claro que pode ter alguns espectadores que achem o desenrolar da série Chambers meio frustrante. Apesar das várias cenas violentas e sangrentas, Becky tem seu próprio tempo em possuir Sasha, quase como se tivesse consciência de que é a personagem de uma série e tivesse que aparecer apenas nas “horas certas”. Inclusive o final, quando há o confronto com Becky e a dificuldade de Sasha em se conectar com seu “verdadeiro eu”, poderia ser um bom exemplo do que chamamos de “anticlímax”.
2ª temporada de Chambers
Apesar de a metade do último episódio de Chambers parecer perder o ritmo da narrativa, o derradeiro final é um gancho fortíssimo para uma continuação. É claro que, ao terminar a série, nos perguntamos quando vai ter a 2ª temporada de Chambers Netflix.
Não apenas Elliot e Nancy Lefevre se vêem numa situação complicada, como também a própria Sasha demonstra coisas novas. Ela rejeita o chamado para ir com Ruth, porém em sua própria jornada do herói surge um chamado dentro de si mesma. Esse chamado é silencioso, e tem morada apenas em nossa expectativa para o que virá a seguir.
O que podemos esperar para uma 2ª temporada de Chambers é o embate dela com a Fundação Anexo e Lilith, e uma possível evolução de suas habilidades (mas, claro… isso é somente uma suposição).
A Netflix ainda não se pronunciou a respeito, afinal a primeira temporada acabou de ser lançada. Eles precisam aguardar um tempo para ver os resultados antes de poderem ter uma posição efetiva. De qualquer forma, é muito provável que ainda este ano tenhamos novidades. Vamos ficar na torcida!