Prince of Persia: The Lost Crown | Confira nossa review

Após mais de duas décadas, a franquia Prince of Persia retorna aos seus primórdios 2D, e em grande maestria
Ficha Técnica
Desenvolvido por: Ubisoft Montpellier
Publicado por: Ubisoft
Gênero: Plataforma, Ação, Aventura, Metroidvania
Série: Prince of Persia
Lançamento: 18 de janeiro de 2024
Classificação indicativa: 12 anos
Modos: Single-player
Disponível para: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e Windows PC

 

Prince of Persia é uma série de games do gênero plataforma e ação/aventura, criada por Jordan Mechner. Os jogos da série tem sido produzidos e distribuídos por várias empresas distintas, desde seu primeiro lançamento, e em 2003 a IP foi comprada pela Ubisoft. Apesar de adotar o gênero de plataforma em 2D em seus primórdios, assim como muitos títulos contemporâneos de sua época de origem, a série evoluiu para jogos 3D de aventura e ação, tendo inclusive bastante sucesso mesmo com a mudança de perspectiva, diferente de muitos de seus contemporâneos. Ao longo do tempo, a série acabou sendo deixada de lado por sua mãe adotiva Ubisoft, em preferência por games de Assassin’s Creed. Após quase 14 anos sem um novo título, de maneira surpreendente, a série retorna, e novamente em 2D!!

Um elemento em comum

Aqui, diferente de outros games da franquia, você não controla Prince, mas sim Sargon, um membro do esquadrão de elite dos Imortais do exército persa. Depois que o príncipe da Pérsia, Ghassan, é sequestrado, Sargon e os demais Imortais viajam até o Monte Qaf para resgatá-lo, perseguindo os raptores que planejam forçar o príncipe a abdicar, e você deve alcançá-lo antes que eles o façam. Importante ressaltar que The Lost Crown existe em sua própria continuidade, uma história paralela e sem ligação com os demais games da franquia. Mas se existe um elemento em comum com outras aventuras da marca, esse elemento é: TEMPO!

Sargon e os demais membros do esquadrão de elite dos Imortais são personagens originais desta aventura

O tempo não obedece às regras normais dentro dos salões amaldiçoados da fortaleza do Monte Qaf. Fixada no céu acima da entrada do monte está uma estátua titânica congelada no momento de sua destruição, com os pedaços de uma cabeça de granito estilhaçados em pedaços ficando suspensos no meio da queda. Ao longo da sua escalada, você encontrará personagens que não envelhecem um dia sequer há cem anos, enquanto outros que chegaram horas antes de você já morreram de velhice. Essas esquisitices do tempo são apropriadas para um jogo que reimagina e combina múltiplas gerações de uma série que remonta a 1989. O Prince of Persia original do desenvolvedor Jordan Mechner era um jogo de plataforma 2D no qual você navegava em um castelo cheio de pisos falsos, guilhotinas e espadas, empunhando guardas até o confronto final contra o grão-vizir. Enquanto isso, nas mãos da Ubisoft, reimaginações posteriores da série viram o herói titular ganhar a habilidade de controlar o tempo, pausando e revertendo-o para resolver quebra-cabeças e desviar de armadilhas em um mundo 3D. Em The Lost Crown, a Ubisoft retorna à perspectiva lateral dos jogos anteriores enquanto incorpora o poder dos títulos posteriores ao longo do tempo para criar um mundo extenso e labiríntico repleto de inimigos e armadilhas para superar.

Explorando terrenos familiares

Prince of Persia: The Lost Crown é um game como os primórdios da série, um jogo de plataforma de progressão lateral. O grande diferencial aqui é que o jogo adota polígonos 3D, conferindo assim uma perspectiva 2.5D, assim como exploração no melhor estilo metroidvania. Sargon pode pular poços, balançar de poste em poste e saltar entre as paredes de poços estreitos para subir os níveis de Qaf, mas mesmo esse atletismo só permite que você acesse uma pequena parte da fortaleza: muitas vezes você enfrentará lacunas muito grandes para pular, saliências altas demais para serem agarradas ou portas com fechaduras distantes demais para serem atacadas com suas espadas. No entanto, à medida que você descobre os segredos da montanha e derrota seus muitos chefes, você eventualmente abrirá novos distritos de Qaf para explorar. Durante a jornada de resgate do príncipe, previsivelmente, Sargon adquirirá um arsenal de ferramentas, armas e bugigangas que o ajudarão a superar os perigos de navegar pela misteriosa (e enorme) montanha. O interessante de The Lost Crown é que, mecanicamente, ele não faz nada particularmente novo. Os poderes que Sargon adquire para resolver os vários quebra-cabeças de plataforma são coisas que você provavelmente já viu em algum outro lugar: há um ataque aéreo, um arco e flecha (que se transforma em uma arma do tipo bumerangue que ricocheteia nas superfícies), um poder de mudança de dimensão que revela plataformas incorpóreas, e um poder de impressão que permite a Sargon “salvar” seu lugar em um local e então teletransportar-se de volta para ele. São todas mecânicas que deixam no ar uma sensação de déjà vu. E por mais que não sejam mecânicas originais, o pessoal da Ubisoft Montpellier conseguiu tornar o uso de cada um desses poderes padrão bastante divertido. A fluidez de movimentos de Sargon também contribui e o timing  de execução dos poderes é permissivo o suficiente para que você supere até mesmo aquele puzzle mais complexo.

Dependendo do nível de dificuldade escolhido, o combate também pode ser igualmente gratificante e desafiador. À medida que você avança, tudo, desde lutas regulares com inimigos, até encontros com chefes, exige que você use boa parte dos poderes e recursos que Sargon dispõe para chegar vivo à próxima área. Alguns dos combates contra chefes lembram lutas dos games do tipo soulslike, onde sua paciência e aprendizado de padrões de ataque dos inimigos são recompensados com a vitória. Ao longo do jogo, Sargon também ganhará novas habilidades de combate, como uma onda de cura ou um impulso poderoso, mas embora algumas delas sejam úteis para encontros muito específicos, podem ser ignoradas na maior parte do game sem prejuízos para o progresso. Você também pode aprimorar as armas de Sargon para torná-las mais poderosas, comprar melhorias para suas poções de saúde ou alterar a configuração de seus amuletos. Esses itens desbloqueáveis permitem que você aumente as habilidades do seu herói, aumentando sua força quando ele está com pouca saúde, por exemplo, ou reduzindo a quantidade de dano que ele sofre com ataques de veneno. Se você encontrar um chefe que não pode derrotar, é reconfortante saber que você pode tornar a luta mais fácil trocando alguns dos amuletos que leva para a batalha.

Mesmo que à primeira vista alguns dos chefes pareçam um obstáculo insuperável, eventualmente você conseguirá fazê-los beijar a lona, bastando memorizar seus padrões de ataque, mesmo na mais alta das dificuldades.

O que é exigido do jogador ao longo do game em cada segmento, seja em um combate ou em um quebra-cabeça, nunca parece injusto, tedioso, ou repetitivo, mas sim como uma forma progressiva de avaliação da evolução do jogador. É interessante notar que esse crescimento do jogador, enquanto progride no game, ocorre paralelamente com esta evolução dos elementos de jogabilidade sendo reforçados pela narrativa, onde Sargon é um membro mais novo e mais jovem dos Imortais, ansioso para provar seu valor, se tornando também mais experiente, conforme o desenrolar da trama.

Mais importante do que saber para aonde vai é saber onde está

Além da travessia pelas plataformas e do combate intrincado, o aspecto mais inovador do jogo é o mapa. Sim, o mapa. De longe um dos maiores, se não for o maior, que já vi em um game do gênero. Há tantos lugares para ir e segredos para descobrir que, mesmo quando você não está indo em direção ao próximo objetivo da história, aonde quer que você vá, você encontrará algo de útil que contribuirá para seu progresso – seja moeda para comprar dicas, materiais de upgrade ou amuletos para seu colar que melhoram as habilidades de Sargon. Além disso, cada área tem um tema/bioma distinto que influencia o tipo de travessia de plataforma que você pode se deparar.

Metroidvanias podem ficar entediantes se você não souber para aonde ir com os poderes que possui. Em The Lost Crown, as capacidades e limitações de Sargon em relação ao cenário ficam claras o suficiente a todo momento. Além disso, a Ubisoft implementou um sistema de sinalização por meio do qual você pode tirar capturas de tela de onde você está, que são fixadas em sua localização no mapa do jogo. Assim, toda vez que você obtiver um novo poder, poderá revisitar essas capturas de tela para ver se o seu novo brinquedo desbloqueia uma nova área. Porém, vale ressaltar que tais capturas são limitadas e o jogador deve conquistar novas conforme explora o mapa. The Lost Crown é Prince of Persia reforjado como Metroidvania, e a série se sente em casa nesse gênero de mundos cada vez maiores. Você retornará e retornará às mesmas áreas do mapa, descobrindo novos segredos em salas antigas graças aos poderes que adquiriu. Baús que antes estavam fora de alcance caem em seu colo, portas trancadas agora se abrem diante de você e chefes que eram muito rápidos ou muito fortes agora parecem meras formigas ao atacar um dinossauro.

Prince of Persia: The Lost Crown: Vale a pena?

Prince of Persia: The Lost Crown não é uma sequência ou prequel de nenhum dos outros jogos anteriores da franquia, é uma nova jornada para a série, e seu primeiro passo é um salto firme em um solo arriscado. Seus elementos mais icônicos das diferentes iterações da série – cenários, armadilhas, combate e poderes de controle do tempo – encontram um lar natural neste novo gênero. The Lost Crown é um game em que é difícil abandonar a jogatina, ele funciona como um dos melhores jogos do gênero metroidvania, tão bom quanto um jogo como Metroid Dread ou Hollow Knight, tendo sua própria identidade, sem parecer uma imitação barata deles. A ação fluida, as belas animações e designs, os levels criativos e as formas de usar o mapa… São muitos os elementos aqui utilizados com maestria. O gameplay de plataforma e a ação são magistralmente equilibradas e enfrentar o mundo do jogo e seus segredos é tão desafiador quanto gratificante. Ocasionalmente pode ocorrer falta de resposta aos imputs aqui e ali, assim como alguns bugs inevitáveis, mas isso não impacta no resultado final do produto. Com Prince of Persia: The Lost Crown, a Ubisoft pegou uma fórmula técnica e mecanicamente simplista e a reinventou em algo extraordinário tanto narrativamente quanto na jogabilidade.

 

Cópia de imprensa disponibilizada gratuitamente para PlayStation 4|5 pela Ubisoft para a elaboração desta análise.

Depois de tudo o que passamos juntos. De tudo o que eu fiz. Não pode ser em vão. Permaneça conosco.