O Paradoxo da Escolha na Cultura Geek

O Paradoxo da Escolha na Cultura Geek

“Menos é mais! Desde que serviços como Netflix e Game Pass surgiram, com uma infinidade de escolhas a serem feitas, eu não curti. A princípio a liberdade de escolha é atrativa e emocionante, mas com o tempo você percebe duas coisas: Adquiriu paralisia e ficou insatisfeito”

Há algumas semanas eu escrevi um texto reflexivo sobre levar a nossa ansiedade do cotidiano para os jogos, na intenção de despertar uma mudança de perspectiva em meus leitores. E através da divulgação desse texto “Da Correria à Busca de Significado”, me indicaram a leitura do livro O Paradoxo da Escolha do psicólogo e pesquisador Barry Schwartz.

Infelizmente o livro traduzido é muito raro aqui no Brasil, e as poucas unidades encontradas na internet custam na casa de 4 dígitos. Porém, existe uma palestra de 2005 – Legendada em PT-BR – presente no TED que traz a essência da sua teoria: Barry Schwartz sobre o paradoxo da escolha.

O que é o Paradoxo da Escolha?

A teoria de Barry diz que embora tenhamos a tendência de acreditar que quanto mais escolhas temos, mais felicidade e liberdade teremos, na verdade, a quantidade excessiva de opções podem nos levar a sentimentos de sobrecarga, insatisfação e até mesmo paralisia.

Isso acontece porque algumas pessoas – assim como eu – tendem a ser perfeccionistas e estarem sempre querendo escolher o melhor, mesmo que hoje em dia, o melhor não seja nada fácil de ser identificado. Então naquele mar de oportunidades, você acaba passando muito tempo escolhendo (sobrecarga e paralisia) um filme na Netflix ou um jogo no Game Pass, e quando por fim escolhe, fica se perguntando se não teria melhor gasto seu tempo naquele outro filme ou jogo, pois eles tinham alguns aspectos melhores (insatisfação).

Game Pass: O Paradoxo da Escolha

O Paradoxo da Escolha é contra o progresso?

Não, o Paradoxo da Escolha é uma teoria com base em estudos feitos por Barry Schwartz, que apenas indicam que mais escolhas não nos deixam mais felizes, contrariando a crença comum.

Em sua palestra no TED ele conta que sempre ia até uma loja comprar uma calça jeans comum, e essa calça jeans era a única que tinha. Ela era dura, e precisava ser muito usada e lavada para enfim ficar confortável. Mas um dia, ele vai até a loja e a calça comum não mais existia, e sim uma variedade enorme delas. Então ele relata que experimentou todas que podia, e saiu da loja com a MELHOR calça que encontrou depois de ter gasto um bom tempo escolhendo. Mas ao sair da loja, mesmo com a melhor calça, ele percebeu que estava frustrado, e então escreveu um livro sobre isso “O Paradoxo da Escolha”.

Dessa forma, ele não tira as vantagens que o progresso nos trouxe, assim como nunca foi minha intenção desconsiderá-las em minha reflexão pessoal. Se trata apenas de uma forma que nos sentimos mesmo diante das melhores opções e que precisa ser reconhecida e tratada.

Você já se pegou procrastinando uma decisão?

Em 1995 um estudo conduzido por Sheena Iyengar e Mark Lepper, colocou a disposição em um supermercado uma banca de amostras de geleia.

Pote de Geleia e Sheena Iyengar e Mark Lepper

“Em um dia, eles apresentaram 24 variedades diferentes de geleia para os consumidores degustarem e, em outro dia, eles ofereceram apenas 6 opções. O resultado foi surpreendente: quando havia 24 variedades disponíveis, mais pessoas pararam na banca para experimentar as geleias. No entanto, quando havia apenas 6 variedades, as vendas foram muito maiores.”

O que aconteceu? Com menos opções as pessoas eram mais assertivas em suas escolhas, e com uma abundância delas, a sobrecarga de informações era tão grande que elas acabavam não comprando nada e deixando para decidir posteriormente.

O Paradoxo da Escolha traz uma solução?

Sim, Barry sugere que as pessoas criem limitações e estabeleçam critérios para si próprias ao invés de se preocuparem constantemente com o melhor. Ele também destaca o quanto é importante estarmos valorizando mais nossas escolhas e as aproveitando, ao invés de nos perdermos em preocupações sobre as escolhas não feitas, pois isso nos leva a um sentimento de culpa.

Outra dica que encontrei em um dos vídeos do Psicanalista Fernando Felix e acredito ser bem útil é o que ele chama de “Ataque do Rinoceronte”. A ideia consiste em quando estivermos indecisos, ao invés de pensarmos muito sobre o assunto, simplesmente mirarmos em algo e irmos até o fim em sua totalidade.

Paradoxo da Escolha - Ataque do Rinoceronte

Pois o excesso de escolhas também nos faz perder a completude das coisas, afinal, quantos de nós não temos contas repletas de games abertos sem serem completados porque o próximo parece mais legal? Quantas séries já dropamos? Nem precisa ir longe, duvido que muita gente vá ler até esse ponto do texto. Existem muitas pessoas que estão até mesmo só lendo o título das notícias e deduzindo todo o resto por si próprias.

O Impacto das escolhas em sua vida

O Paradoxo das Escolhas então, para a perplexidade de muitos, não é um movimento contra o progresso ou uma crítica a todas as melhorias, praticidades e oportunidades mais acessíveis que possuímos hoje em dia. Ele serve apenas para mostrar que aquele sentimento de frustração que muitas vezes você sentiu sem saber o porquê, vem de todas as vantagens que temos hoje, pois nem sempre o melhor traz felicidade e satisfação.


“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Continue lendo aqui.