‘Como Um Dragão’, dessa vez, renascido para a nova e antiga geração!
Desenvolvido por: Ryu Ga Gotoku Studio |
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Publicado por: Sega |
Gênero: Action-adventure, Beat ‘em up, hack and slash |
Série: Like a Dragon, Yakuza |
Lançamento: 21 de Fevereiro de 2023 |
Classificação indicativa: 18 anos |
Modos: Single-player |
Disponível para: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X/S e Windows |
A franquia Ryu Ga Gotoku (Como Um Dragão, em tradução literal), surgiu no Japão em 2005, ainda no saudoso PlayStation 2, como uma espécie de sucessor espiritual da consagrada série Shenmue, do Dreamcast. Somente após quase 9 meses a série deu as caras no ocidente, outrora nomeada como Yakuza, contando inclusive com dublagem em inglês. O games da série passaram então a serem lançados quase que anualmente, desde então, no Japão. Porém, no ocidente, a série demorou um pouco a ter a merecida receptividade fazendo com que a Sega não arriscasse lançar alguns dos títulos mais fora da zona de conforto da série. Hoje, com a crescente popularidade da franquia no ocidente, títulos mais obscuros estão tendo oportunidade de ganhar os holofotes, agora sob a alcunha de Like a Dragon, algo mais condizente com o nome oriental da série. Um desses títulos é justamente um dos muitos spin offs da franquia, Like a Dragon: Ishin! O foco dessa review!
Remake
Originalmente um exclusivo japonês crossgen de 2014 lançado para PS3 e PS4, curiosamente, o título acaba sendo um remaster de um game já existente na mesma geração, no caso o PS4. A versão que chega agora, novamente acaba sendo crossgen, dessa vez pelo lançamento da mesma também no PS5. O remake acaba sendo bastante fiel, praticamente 1:1, com alguns ajustes mecânicos, fazendo o recast de alguns personagens e dando-lhe um retoque gráfico, mas sem fazer mudanças radicais. Isso acaba colocando-o em um lugar distorcido no tempo, enquanto a série principal segue no gênero baseado por turnos com Yakuza 7, este é um jogo de uma década atrás vestido com uma roupagem moderna.
História
Os eventos de Like a Dragon: Ishin! ocorrem na Kyoto da década de 1860 e apresentam personagens vagamente baseados em figuras históricas reais, mas a maioria dos papéis em seu elenco principal é preenchida com uma série de rostos reconhecíveis de outros jogos da franquia Yakuza. O jogador assume o controle do protagonista Sakamoto Ryoma, um ronin em busca de vingança, que fisicamente é claramente uma versão do protagonista dos demais games da série, Kazuma Kiryu, onde até mesmo sua cara emburrada fixa e senso inabalável de justiça marcam presença. Um fato curioso é que no lançamento original do game, vários personagens tinham determinada fisionomia, mas no remake, muitos deles acabaram sendo substituídos por rostos de outros personagens de jogos anteriores da franquia. Por um lado acaba dando um ar de familiaridade para quem jogou os demais games e um ar de novidade até mesmo aos que jogaram o game original de 2013; por outro lado, tira um pouco a originalidade e individualidade do game.
Gameplay
Objetivamente, como funciona um game da franquia Yakuza/Like a Dragon: Há uma cidade para explorar (no game aqui em questão, Kyo, nos tempos modernos conhecida como Kyoto), muitos locais estranhos para fazer amizades, restaurantes para visitar e bandidos de rua para espancar até não poder mais. Comparado com outros GTAs da vida, o mundo de Ishin pode parecer minúsculo, mas é difícil passar segundos sem encontrar algo ou alguém interessante para se distrair. E geralmente essas distrações envolvem na maioria das vezes lutas. O combate de ação de Ishin permite que o jogador desde o início do game escolha entre quatro estilos de luta diferentes:
- Combate desarmado: com esquiva mais fácil;
- Esgrima samurai: causa grande dano, mas requer maior domínio;
- Tiro com revólver: combate de longo alcance;
- Estilo misto com ataques de espada e revólver: combina elementos dos todos três para combos espetaculares, mas causa um menor dano no geral.
Você ainda tem a opção de escolher a dificuldade do game a qualquer momento, com várias opções disponíveis desde o início. Embora o combate possa parecer inicialmente um pouco truncado, o que pode afastar alguns marinheiros de primeira viagem, com o progredir do game o jogador desbloqueia mais movimentos para cada estilo, ao se subir de nível em cada um, e tudo passa a correr mais fluidamente. Em Ishin, as lutas acabam sendo mais brutais e sangrentas do que o combate frequentemente pastelão da Yakuza, com inimigos sendo empalados, fatiados ou baleados à queima-roupa. Isso vale principalmente para as Heat Actions, os clássicos movimentos especiais da série, que consomem superbarras. Embora haja alguns engraçados e estranhos, Ryoma na maioria das vezes apenas esfaqueia um cara. Em alguns deles, ocorre uma dissonância ludonarrativa em relação ao comportamento/caráter do protagonista, assim como na franquia Uncharted, e nos demais games da série Yakuza, como em alguns outros requer um pouco de suspensão de descrença. É ainda mais engraçado quando os quatro bandidos que você acabou de atirar dez vezes cada um se levantam, pedem desculpas por sua grosseria, dão a você um item e correm para casa.
Uma mecânica adicional interessante aqui é o Officer System. Um dos maiores minigames do game, no melhor estilo dungeon crawling dos JRPGs, onde Ryoma limpa bases dos bandidos, em missões opcionais. É onde você realiza a maior parte de seu grinding de combate opcional. Para ajudar nisso, você pode coletar cartas de ‘oficiais’ que agem como um sistema de magia rudimentar adjacente ao gacha, permitindo equipar e invocar espontaneamente cura, buffs ou ataques de dano. Existem até algumas cartas especiais que summonam personagens (ou animais) para finalizações espetaculares. É uma mecânica que adiciona uma camada interessante a mais ao combate.
Outra grande distração de Ishin dá ao protagonista uma pequena casa de fazenda para administrar. Você pode plantar e colher, fazer refeições caseiras e vender o excesso de para a cidade. Uma atividade relaxante para descansar entre os combates, mas parece tangencial de uma forma que a maioria dos minigames não faz, com a fazenda existindo fora do mapa normal do jogo e acessível apenas por um barqueiro NPC no canto da cidade. De resto, Ishin oferece outros muitos minigames, onde com certeza um dos mais populares, assim como os demais outros games da franquia, continua sendo o karaoke, mesmo este tendo sido inventado apenas em 1971.
Embora as missões secundárias possam não ser tão polidas quanto o arco da história principal, elas são muito mais variadas, alternando da tragédia à comédia maluca e frequentemente envolvendo minijogos imprevisíveis, mas na maioria das vezes se apoiando no mecanismo de combate de Ishin.
Demais aspectos técnicos
A ambientação aqui é um dos destaques positivos, sendo que os arredores da floresta de Kyoto do século 19 certamente proporcionam uma boa mudança de cenário da movimentada selva urbana dos dias atuais de Tóquio, servindo para dar uma variada da já saturada ambientação urbana da franquia. Dá para notar também que a iluminação e as texturas foram melhoradas para alinhá-lo mais com os games da série mais recentes, mas ainda assim a idade do game pesa um pouco, com algumas animações de personagens um pouco rígidas e telas de carregamento que ocasionalmente interrompem as cutscenes e em muitas das transições de exteriores para interiores.
Like a Dragon: Ishin: Vale a pena?
Se você está familiarizado com os demais games da franquia Yakuza, já pode esperar a qualidade do produto que encontrará aqui. Este título valeu a espera de quase uma década? Absolutamente! Porém, olhando o resultado final como um todo, fica quase que escancarado que o esqueleto desta versão 2023 de Ishin! parece ser o mesmo do original, tornando-o mais próximo de uma remasterização do que de um remake propriamente dito, o que nem de longe pesa na nota final e invalida a qualidade do game.
Depois de tudo o que passamos juntos. De tudo o que eu fiz. Não pode ser em vão. Permaneça conosco.