O violento e desregrado Pedro Chão (Felipe Camargo) aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Os residentes locais o acusam de roubo e tentam, em vão, que ele recupere a memória – e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, vem à tona uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.
Esta é a premissa de “Filhos do Mangue”, de Eliane Caffé, que participa da seleção do 26º Festival do Rio, que acontece de 3 a 13 de outubro de 2024. A exibição acontece dentro da Première Brasil. O filme teve sua estreia nacional no último Festival de Cinema de Gramado, onde conquistou os prêmios de melhor direção e atriz coadjuvante para Genilda Maria.
O protagonista procura na natureza e entre os residentes da pequena vila de pescadores as peças perdidas de sua vida. O trabalho rendeu uma experiência intensa para seu intérprete, segundo a cineasta. O ator usou como inspiração sua convivência com os habitantes da paradisíaca Barra do Cunhaú (RN), onde o filme foi rodado, para compor seu personagem. Com uma extensa filmografia em cinema e TV, o carioca Felipe Camargo (“O Juízo”) pode ser visto recentemente na telinha na reprise das novelas Alma Gêmea e Despedida de solteiro – a última lançada este ano no streaming.
Na história, a amnésia repentina de Pedro Chão o fez esquecer uma existência que ninguém gostaria de lembrar. Em seu processo de reconstrução, ele vai encontrar as pessoas de sua convivência. Entre seus muitos acusadores, estão a ex-esposa, vivida por Titina Medeiros (“Cangaço Novo”), e a filha (a atriz mirim Maria Alice da Silva). Natural de Currais Novos, município do interior do Rio Grande do Norte, Titina está atualmente no ar com as novelas Cheias de Charme e No Rancho Fundo.
Ainda que o filme lide com traumas e temas particularmente espinhosos como violência doméstica e exploração do trabalho, a narrativa de “Filhos do Mangue” acha espaço para a ironia e alguma leveza nas andanças do protagonista. “O humor pode ser uma ferramenta valiosa para humanizarmos questões complexas e áridas”, acredita a realizadora de “Os Narradores de Javé” (2003). “A dosagem, vamos tecendo na vivência das cenas”, explica Eliane Caffé.
Outro ponto chave da trama é o mangue, que retrata no filme a nascente da pesca familiar, devorada pela exploração de terceiros, e, ao mesmo tempo, serve de expressão da mãe natureza. “Ela traz o elemento que nos transcende a todo instante”, elabora a diretora. “E, se escutamos a natureza, como os personagens fazem em alguns momentos, alargamos a relatividade de tudo o que nos forma como identidades”, conclui a diretora. Como um náufrago perdido na memória, Pedro Chão procura por respostas no coração do mangue.
O projeto original baseia-se em argumento adaptado de um livro do escritor Sérgio Prado, “Capitão”, de 2011. “Depois, quando chegamos na Barra do Cunhaú, tudo foi virado do avesso. A própria localidade e seus personagens começaram a apontar novos caminhos de narrativa”, relembra a cineasta. A direção também deu espaços a improvisações em quase todas as cenas, porém mantendo a estrutura do roteiro, dividido entre Eliane e o dramaturgo Luis Alberto de Abreu. “Filhos do Mangue” é o quinto longa da realizadora paulista.
O elenco traz também Roney Villela, Jeniffer Setti, Thiago Justino, Genilda Maria, Pequena Cintilante, Luana Cavalcante e outros, além de pescadores, criadores de ostras e população local da comunidade de Barra do Cunhaú. Fernando Muniz e Beto Rodrigues assinam a produção executiva. O roteiro original é de Sergio Prado. Pedro Rocha e Rodrigo Frota são os responsáveis pela direção de fotografia e direção de arte, respectivamente. A direção de produção ficou a cargo de Andrea Lanzoni.
“Filhos do Mangue” é uma realização da Pé na Estrada Filmes, com patrocínio da Protege e Britânia. Apoio: Sebrae, Pousada Vila da Barra, Pousada do Forte, Naturezatur, Coco Mango, AOC (Associação de Ostreicultores de Canguaretama), Aldeia Indígena Katu e prefeitura de Canguaretama. A distribuição é da Bretz Filmes. Este filme foi produzido com recursos públicos operados ou geridos pela ANCINE, BRDE e FSA.
Sinopse:
Um homem violento e desregrado aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Esta o acusa de roubo e tenta, em vão, que ele recupere a memória e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, vem à tona uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.