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Delicioso: Da Cozinha para o Mundo | Confira a nossa resenha

Como tratar da Revolução Francesa de uma forma sutil? A comédia Delicioso: Da Cozinha para o Mundo faz isso.
Delicioso
Ficha Técnica
Título: Delicioso: Da Cozinha para o Mundo
Ano de Produção: 2021
Dirigido Por: Éric Besnard
Estreia: 10 de fevereiro de 2022
Duração: 1h53min
Classificação: +12
Gênero: Comédia
País de Origem: França
Sinopse: Em 1789, na França, pouco antes da Revolução, um chef despedido pelo patrão encontra forças para se libertar da sua posição de criado e abre o primeiro restaurante, com a ajuda de uma jovem.


Delicioso: Sobre a História

Em síntese, o orgulhoso cozinheiro, Pierre Manceron é servo do Duque de Chamfort, em uma cidade do interior da França. No entanto, tanto o duque quanto seus “amigos” da corte, inclusive o clero, não estão acostumados com quaisquer novidades na cozinha.

E a novidade se trata de “Delicioso”, uma iguaria à base de batata. O que era uma afronta à corte francesa, pois o referido alimento era somente dado aos servos (Sim, é isso mesmo o que você está lendo).

O mais irônico, é que a crítica foi iniciada por um integrante do clero, que logo no início da narrativa, reclama do pecado da gula, mas joga a comida fora, como se fosse algo normal, quando milhares de franceses estavam, à época, passando fome.

Diante de uma monarquia decadente da França de 1789, e após ser obrigado a pedir desculpas pelo feito, cuja recusa fez com que Manceron seja demitido da sua amada cozinha, o filme se inicia.

Deprimido pela sua demissão e mesmo com a súplica do conselheiro do duque, Hyacinthe, para que ele reconsidere, Manceron se nega a pedir desculpas e passa a viver amargurado até a vinda de Louise, uma misteriosa mulher, que deseja aprender a arte culinária.

Junto da sagaz Louise e do antenado Benjamin Manceron, Pierre começa a perceber que a boa comida não foi feita somente aos nobres franceses, mas ela pode ser apreciada por todos.

Sobre os Personagens

Interpretado com maestria por Grégory Gadebois, Pierre Manceron, é um cozinheiro que foi criado e ensinado para servir à monarquia francesa. Embora não seja idealista, quanto ao seu filho Benjamin, seu orgulho faz com que perca a sua pouca paciência e não se submeta mais aos caprichos do seu mestre.

Vou dizer que Delicioso não seria o que é sem a interpretação de Gadebois, que nos traz todos as nuances de um servo francês que já estava acostumado com a nobreza francesa e, portanto, tem dificuldades em achar outra alternativa após a sua demissão.

A alternativa é vinda, misteriosamente, por meio de Louise, personagem de Isabelle Carré que traz um segredo que pode mudar todo o rumo da história. Persistente e decidida, Louise consegue plantar uma sementinha na cabeça de Manceron: de que é possível viver da boa cozinha, sem se submeter aos caprichos da monarquia.

Juntamente como Grégory, Carré entrega uma excelente personagem que carrega um grande segredo. No entanto, no decorrer do longa, você percebe pistas que tornam o seu ar de mistério um tanto quanto previsível. Antes de revelar quem ela realmente é, eu já havia sacado tudo.

Outrossim, para fechar a “trindade”, temos Benjamin Manceron interpretado, de forma promissora, por Lorenzo Lefebvre.

Diferentemente dos demais personagens, e como bem lembrando por seu pai, Benjamin é jovem, é idealista, e antenado com a leitura dos novos pensadores e com as notícias de Paris. É ele quem termina por adubar a ideia de que Manceron deve se “libertar” das vontades do duque e criar algo novo.

Dentre esses três personagens temos, ainda, o nobre decadente, Duque de Chamfort (Benjamin Lavernhe), o alívio cômico do filme, Jacob (Christian Bouillette) e o conselheiro do duque, Hyacinthe (Guillaume De Tonquédec).

Direção e Fotografia

A direção do filme ficou por conta de Éric Besnard. Diretor que soube captar, muito bem, as expressões dramáticas de que cada ator. Ao meu ver, Besnard não teme em focar a câmera nos seus intérpretes, pois ele confia no trabalho do seu elenco.

E, ainda, fez um trabalho incrível com a direção do feitio das comidas. O que mais me intrigou e saltou aos olhos e ouvidos, foi o estilo “ASMR” com que ele tratou o preparo de cada iguaria.

Quando Manceron está cozinhando, você não escuta nenhuma trilha sonora. É como se você fosse transportado à cozinha de 1789. Ou melhor dizendo, como se você somente ouvisse o barulho da farinha sendo manuseada, do corte da faca e nada mais.

Sem contar com a fotografia do filme, que mostra as belas paisagens de uma França provinciana e totalmente aquém da realidade que estava acontecendo na pré-Revolução em Paris.

Aliás, o foco nas paisagens francesas me lembrou bastante a fotografia do filme inglês, Orgulho e Preconceito, interpretado por Keira Knightley e Matthew Macfadyen.

Delicioso: Veredicto 

Embora saibamos, já na sinopse, que Delicioso se passa no período pré-Revolução, o filme traz sutilezas de que a revolução também vai acontecer, mesmo que a passos lentos, nas cidades do interior da França.

O roteiro, apesar de ser um tanto quanto previsível, soube trazer os ideais da Revolução Francesa no decorrer da sua história, com uma perspicácia sem igual. Até porque, não é a pretensão do filme ser histórico, como Danton – O Processo da Revolução de 1982, por exemplo.

Aqui, os ideais são tratados da seguinte forma: a Liberdade, entre o servo cozinheiro e o seu nobre; a Igualdade, todos são passíveis de apreciar a boa cozinha; e a Fraternidade, sem a ajuda um do outro, uma ideia é, apenas, uma ideia.

Por fim, com uma interpretação sem igual dos atores e com comidas que te fazem pular na tela do cinema, Delicioso é um filme aconchegante; como uma boa comédia francesa.

Ou seja, “le film est très bien!” (Desenferrujei meu francês, em homenagem à minha querida e saudosa professora, Maria Eugênia).

Até mais, e Obrigado pelos Peixes!

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