Jurassic Park é uma das franquias mais famosa do cinema, onde a serie teve inicio em 1993 e dirigido por Steven Spielberg. Onde algumas de suas sequências anteriores não foram bem exploradas, em especial a versão Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, de 2015, não foi exatamente um dos melhores recomeços para a franquia, que partiu de um livro de Michael Crichton (Westworld). Também não foi o pior dos casos, pois foi um grande sucesso de bilheterias ao redor do mundo, ainda contou com momentos divertidos no arco. Muitos de seus pontos baixos, no entanto, eram e ainda são atribuídos à escalação do novato Colin Trevorrow, mesmo com as críticas direcionadas a Trevorrow, o próprio ainda se manteve ligado à franquia Jurassic Park, porém nas cadeiras de produtor e roteirista, e concedendo apenas lugar ao espanhol Juan Antonio Bayona na direção deste Jurassic World: Reino Ameaçado.
Com tons mais maduro e drástico, o Reino Ameaçado escolheu o seu público original, que com os anos foram crescendo e já tem idade o suficiente para ensanguentamentos, garras, dentes afiados e uma agressividade em uma proporção mais realística comparando a algo em uma escala melhor do segundo longa O Mundo Perdido.
Dirigido agora por J.A. Bayona, temos uma visão mais apurada das consequências de ter dinossauros coexistindo com seres humanos e do revés que isso é, e, em contrapartida, o valor simbólico de aprendizado e compaixão com a vida de outro ser vivo.
Apesar de uma visão mais tridimensional da aventura que é Jurassic Park, os alicerces ainda não perdem seus chavões, clichês e decisões de roteiro. Refém de vários erros que foram criados e desenvolvidos ao longo do primeiro filme desta nova franquia, a trama derrapa entre uma nostalgia mal usada (a presença de Jeff Goldblum, por exemplo), uma história de resgate que fica na metade e não é bem aproveitada, personagens rasos, alívios cômicos risíveis, antagonistas clichês e mudanças repentinas de tom que te tiram da trama.
A sensação é de que o filme não sabe para onde ir, tirando coelhos da cartola a todo o momento para tentar acertar o rumo das coisas. Em certa altura da projeção, há uma reviravolta tão forçada que, ao invés de ser chocante, se torna pueril. O longa falha ao tentar emocionar em diversos momentos, o desespero pela sobrevivência esgota o expectador e o faz mais atento e defensivo e, menos conectado aos sentimentos afetivos que o roteiro oferece..
Do ponto de vista estético e visual, esse é o filme mais interessante de toda a franquia, seja nos seus efeitos especiais e práticos, ou até na sua cinematografia. É tudo muito vivo, desde a flora das cenas na ilha aos animatrônicos, que dão um senso maior de tato e de perigo às cenas. Caso isso fosse deixado tudo ao CGI, com certeza não haveria tanto impacto em momentos específicos que pediam mais realidade.
Há planos panorâmicos bem interessantes contemplando todo o cenário. Isso ocorre principalmente em algumas cenas de tensão e ação, deixando muito claro o que está acontecendo. Vale ressaltar que existem cenas de noite, e isso não impede o entendimento da aventura; pelo contrário, os elementos noite e chuva ajudam ainda mais a construir um ambiente favorável ao terror e ao desconhecido, mesmo que nós já tenhamos visto e saibamos quem são as criaturas.
Os efeitos visuais são muito bem feitos. Os bichos acabam criando uma empatia com o espectador, transmitida apenas pelo olhar. Se eles choram, você sente a tristeza, se eles estão com raiva, você fica apreensivo. Porém, ao invés de apostarem em humanos convincentes como vilões, novamente, usam personagens em CGI.
A fotografia em alguns momentos parece optar, mesmo que levemente, por um artifício de baixa saturação na imagem, tornando mais fria a ambientação e criando uma atmosfera um pouco mais apática e de morte; tanto que, em momentos em que aparece sangue, a cor vermelha se destaca, sendo mais saturada do que o resto do ambiente.
As cenas de ação, principalmente envolvendo esses bichões, são bem orquestradas e funcionam tanto no nível de combate quanto no nível da espreita, onde o filme decide fazer jogos de luz e sombra, sempre se utilizando de momentos de pouco silêncio e silhuetas contra a parede oposta para causar apreensão e impacto no espectador.
O 3D não é algo que realmente faça uma diferença inacreditável, são pouquíssimas as cenas onde o uso é feito de forma coerente como na cena do braquiossauro e na luta final.
A trilha sonora é bem feita. É mais do que evidente que ela utilizará a música tema da franquia em alguns momentos, porém aqui é mais bem dosada do que em Jurassic World 1. O tom é mais soturno, já que a trama segue o mesmo caminho, mas não pensem que é assim o tempo inteiro.
A cena pós créditos do filme é dispensável. Nem precisa perder seu tempo assistindo-a ou mesmo, pode sair da sala e depois, ver no YouTube da vida.
Apesar dos estereótipos, temos um melhor aproveitamento do elenco e menos soluções deus ex machina. A química entre os personagens é muito maior e mais funcional. Os núcleos acabam se dividindo, e isso não ocorre à toa, tendo em vista que, nos clímax seguintes, eles convergem entre si.
Enfim
Jurassic World: Reino Ameaçado é definitivamente melhor que seu antecessor. É mais assustador, mais interessante do ponto de vista estético, mais criativo e, apesar dos chavões, clichês e decisões questionáveis de roteiro, diverte muito e entende seu próprio universo como há muito não havia entendido.