RESENHA | Filme: Homem-Formiga e a Vespa

Homem-Formiga e a Vespa é a sequência do filme de 2015, Homem-Formiga, e começa lidando com as consequências da participação direta de Scott Lang (Paul Rudd) nos eventos de Capitão América 3: Guerra Civil, com o protagonista cumprindo pena em regime domiciliar ao mesmo tempo em que tenta equilibrar sua condição atual com as responsabilidades de ser um pai solteiro. Falar da atuação de Paul Rudd é chover no molhado. O cara transmite um carisma inacreditável e funciona como um POV do público, no decorrer do longa, além de interagir muito bem com os demais atores.

A maior parte do longa acontece pouco antes dos eventos de Guerra Infinita, com o filme tendo um tom muito mais leve como resultado, perfeitamente compatível com o do Homem-Formiga original. Lang, enquanto cumpre prisão domiciliar, é arrastado de volta ao heroísmo ilegal por Hope van Dyne (Evangeline Lilly) para salvar sua mãe, Janet (Michelle Pfeiffer), do “Reino Quântico”.

Aqueles que ficaram decepcionados com a ausência da Vespa em Guerra Civil e com seu papel de apenas suporte no primeiro filme, não ficarão desamparados dessa vez. A própria Hope, rouba a cena em diversos momentos, destemida e habilidosa, com um combate similiar ao de Scott, com combos de aumentar-diminuir de tamanho, combinados a técnicas aéreas, proporcionadas por seu traje exclusivamente à ela. Tamanho desempenho da personagem levanta questionamentos quanto à necessidade do cientista Hank Pym (vivido por Michael Douglas) ter recrutado um criminoso em vez de ter confiado o trabalho apenas à sua filha, no primeiro longa. O aumentar-diminuir não fica restrito às cenas de luta, mas estende-se também a perseguições pelas ruas do estado americano de Georgia, com carrinhos Hot Wheels.

Ant-Man and the Wasp apresenta dois novos vilões, a Fantasma (Hannah John-Kamen), trazida diretamente dos comics de Homem-de-Ferro, tenta a todo custo roubar o laboratório secreto do Dr. Pym; e Sonny Burch (Walton Goggins), um negociante do mercado negro com interesses na tecnologia quântica para si. Nenhum dos dois consegue ser cativante o suficiente, sendo que o roteiro deixa Fantasma uma personagem unidimensional, enquanto Burch é bastante esteriotipado e em momento algum transmite sensação de ameaça. Laurence Fishburne também está presente no filme, como um aliado da Fantasma, o personagem Dr. Bill Foster, que, assim como sua contraparte dos quadrinhos, no passado, foi o herói Golias Negro, após ajudar Hank Pym, com um antídoto, quando este não conseguiu reduzir de tamanho, em uma ocasião. A partir daí se formou a amizade dos dois, mas, no filme, acabaram tendo um desentendimento e se afastaram.

O filme é repleto de jargões pseudo-científicos, chegando ao ponto de o próprio Scott ridicularizar isso em certo momento, sinal de que o filme é consciente de sua própria ridicularização, o que deixa questionamentos mais pertinentes sem respostas. O que Janet fazia para sobreviver no Reino Quântico durante 30 anos? Como ela conseguia respirar lá sendo menor do que uma molécula de oxigênio?

Abby Ryder Fortson, que interpreta a filha de Scott novamente, Cassie, possui uma ótima química com Paul Rudd, e atrai os holofotes para si, nas cenas em que estão juntos. Há um traço de humor extra do fato de que o traje de Scott durante boa parte do filme não está funcionando corretamente, deixando-o incapaz de controlar seu tamanho, nos momentos mais necessários. Uma cena em específico na escola da filha de Lang rende talvez o momento mais hilário do filme. Falando em hilário, o Luis, interpretado por Michael Peña, está de volta com sua gangue, mais envolvido ativamente na história, com direito a uma nova cena de “dublagem” tão boa quanto à do filme original.

Aqueles que esperam ansiosos para ver o mundo pós-estalar-de-dedos-de-Thanos terão que aguardar um pouco mais, já que esse é um filme com uma história independente do restante do MCU, e que sustenta-se por si só, sem usar outros personagens ou eventos como muletas. As únicas referências ao restante do MCU presentes são citações ao Capitão América, à Hidra e S.H.I.E.L.D e o que é visto na 1ª cena pós-créditos (cabe ressaltar que são duas). Há indícios de que, parte da salvação de Vingadores 4, esteja justamente nessa cena.

A obra, dirigida novamente por Peyton Reed, alça voos maiores, sem a influência de Edgar Wright, a despeito do primeiro filme, porém permanece auto-suficiente em seu universo particular. Tão divertido e dinâmico quanto seu antecessor, e um pouco mais extenso, não é um filme com um roteiro tão elaborado e personagens profundos quanto a obras chaves mais densas do MCU (tais como o primeiro Vingadores, Guerra Civil ou Guerra Infinita), mas, com certeza, é uma aventura descompromissada que agrada a toda a família.