“Compartimento nº 6” (2021) é um desses casos que os opostos se conhecem para descobrir um novo mundo que estava bem próximo de ambos, mas que não haviam se dado conta disso.
Título: Compartimento nº 6 |
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Ano de Produção: 2021 |
Dirigido Por: Juho Kuosmanen |
Estreia: 15 de março de 2023 |
Duração: 1h 42min |
Classificação: 16 anos |
Gênero: Drama, Comédia |
País de Origem: Finlândia, Russia |
Sinopse: Quando dois estranhos se encontram, a princípio eles não parecem amigos e são divididos por classe, nacionalidade e língua. Laura, uma estudante finlandesa, acabou de dar adeus ao seu namorado russo Irina e embarcou no trem indo para Murmansk, uma cidade remota no círculo ártico a fim de ver desenhos de pedra – supostamente algo poético e romântico para terminar seus estudos da Rússia. O Ioutish Ljoha, que lustra vidros de vodca, trabalha em uma mina regional. Enquanto a viagem continua, rachaduras aparecem nas fachadas que eles apresentam e suas vulnerabilidades os forçam a se reconhecerem como muito mais complexos dos que apresentam para o mundo. |
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Narrativa
O sucesso do subgênero “Road Movie”, ou filme de estrada, possui um elemento interessante em alguns casos, como por exemplo de dois opostos se encontrarem durante a trama e logo formarem uma ligação, por vezes, inexplicável. Isso acontece desde ao fato de elementos como comédia e drama moldarem a trama enquanto os protagonistas vão se conhecendo até criarem um vínculo do qual pareça até mesmo duradouro.
Dirigido por Juho Kuosmanen, o filme se passa quando dois estranhos se encontram, a princípio eles não parecem amigos e são divididos por classe, nacionalidade e língua. Laura, uma estudante finlandesa, acabou de dar adeus a sua namorada russa Irina e embarcou no trem indo para Murmansk, uma cidade remota no círculo ártico a fim de ver desenhos de pedra – supostamente algo poético e romântico para terminar seus estudos da Rússia. O Ioutish Ljoha, que lustra vidros de vodca, trabalha em uma mina regional. Durante a viagem, um vínculo inesperado nasce entre os dois.
É fácil nos simpatizarmos pelos protagonistas, já que são somente dois personagens centrais e dos quais aos poucos vão sendo apresentados na tela e revelando as suas reais naturezas. Enquanto Laura, aparentemente, parece ser um tanto que reservada em seu dia a dia, por outro lado, Ljoha se mostra uma entidade inquieta, querendo receber atenção, ou com o desejo de dar atenção para a pessoa próxima que precisa. Logicamente, o início dessa amizade aparenta que irá dar tudo errado, mas logo se mostra exatamente ao contrário.
Em seu filme Juho Kuosmanen procura nos dizer que, independentemente de quem você seja, ficamos sozinhos em algum momento da vida, seja porque a gente quer, ou porque situações aconteceram para que esse momento viesse acontecer. Laura, por exemplo, mesmo estando se sentindo abandonada pela namorada, decide fazer a sua tão sonhada viagem, mas talvez mereça um ombro amigo, mesmo que venha de alguém um tanto que imprevisível. Ljoha parece desejar atenção, carinho, ou até mesmo alguém para ouvir o mesmo colocar tudo para fora sobre o que ele carrega em seu dia a dia.
Direção e atuações
Tanto Seidi Haarla como Yuriy Borisov estão ótimos em seus respectivos papeis, sendo que cada um consegue criar uma personalidade complexa para os seus personagens. Borisov, por exemplo, consegue nos passar diversos sentimentos através do seu olhar para o seu personagem, ao ponto de até mesmo temermos pelo que irá acontecer em seguida, já que boa parte da trama se passa em um trem fechado e criando até alguns momentos de claustrofobia. Seidi, por sua vez, faz com que a sua personagem Laura nos passes uma transição da melancolia para momentos de felicidade incomuns que até então ela desconhecia.
Tecnicamente a direção de Juho Kuosmanen é outra coisa que nos chama bastante atenção, ao fazer da trama transitar entre os momentos de ficção para quase um lado documental, principalmente nos momentos em que Laura registra com a sua câmera cenas de uma Rússia que não se vê em outras mídias. Isso se solidifica ainda mais no momento em que ambos os protagonistas conversam com uma velha senhora, sendo que essa última parece nem estar atuando, mas sim apenas falando sobre si mesma e dando a sua interpretação com relação a sua realidade em volta. São momentos como esse que o filme nos conquista facilmente e fazendo a gente desejar que a viagem tão cedo não termine.
Considerações finais
Ao final da jornada, se percebe que os destinos de cada um não eram assim tão importantes se comparados aos momentos em que estiveram juntos e conhecendo uma nova forma de encarar a jornada particular de cada um naquele momento. Ao final desejamos até mesmo que fiquem juntos, mesmo que lá no fundo nós saibamos que isso é quase impossível, pois tanto Laura como Ljoha já possuem compromissos para serem trilhados, mas não significa que não valeu a pena eles terem se conhecidos, pois nem toda boa lembrança se limita a uma filmagem ou tão pouco uma foto. “Compartimento nº 6” é sobre a solidão do ser humano contemporâneo, mas que consegue obter uma sobreviva através do seu próximo.