Sexta série da Marvel a ser exibida na Disney +, Cavaleiro da Lua mostra coragem ao se concentrar no seu próprio mundo: focada nos conflitos internos de seu protagonista e distanciando-se do Universo Cinematográfico da Marvel, a nova aposta da casa das ideias funciona muito bem, apesar de seus deslizes narrativos.
Título: Cavaleiro da Lua (Moon knight) |
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Ano de Produção: 2022 |
Dirigido Por: Mohamed Diab/Justin Benson/Aaron Moorhead |
Estreia: 30 de março 2022 |
Duração: 45min (em média) |
Classificação: 14 anos |
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia |
País de Origem: Inglaterra/Egito |
Sinopse: A série segue Steven Grant, um funcionário da loja de presentes, que se torna atormentado por apagões e memórias de outra vida. Steven descobre que tem transtorno de identidade dissociativa e compartilha um corpo com o mercenário Marc Spector. À medida que os inimigos de Steven/Marc convergem sobre eles, eles devem navegar por suas complexas identidades enquanto são empurrados para um mistério mortal entre os poderosos deuses do Egito. |
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ENREDO E NARRATIVA
Cavaleiro da Lua, desde o começo, não esconde seu objetivo principal de destrinchar seu protagonista ao extremo. Desde o começo da série o espectador é imerso no universo
particular da Steven Grant, grande entusiasta da mitologia egípcia que trabalha em um museu.
A medida que a série avança, o roteiro explicita os conflitos do protagonista, sua identidade e toda a sua convivência. A narrativa da obra é focada no íntimo do personagem, não tendo como objetivo se relacionar com o resto do universo cinematográfico da Marvel (não há nem menções a outros heróis, diga-se de passagem).
Felizmente, no caso de Cavaleiro da Lua, a ausência de conexão com o universo da editora abriu os leques da produção: em certo momento da trama, o espectador é introduzido a outra personalidade do protagonista, Mark Spector, e é nessa hora que tudo engata. O grande problema de narrativas intimistas pertencentes a um universo cinematográfico é a falta de conteúdo que normalmente apresentam, porém, esse não é o caso.
A narrativa poderosa da produção consegue, ao longo de sua trama, construir um protagonista complexo e repleto de várias camadas. O conflito existente ao longo da trama, apesar de existir, não é focado no “bem contra o mal” e sim do protagonista contra o próprio protagonista. A medida que o roteiro progride, o espectador tem o prazer de acompanhar cada passo do autoconhecimento do personagem, gerando cada vez mais empatia e instigando sua curiosidade ao mergulhar pelas camadas mais profundas e sinistras de Mark e Steven.
OSCAR ISAAC, OSCAR ISAAC, OSCAR ISAAC E CABEÇA DE PÁSSARO?
De longe, Oscar Issac é a estrela que mais brilha nessa produção. Seja por ajuda do roteiro, seja por mérito próprio, o fato é que o ator consegue entregar um excelente Steven Grant e Marc Inspector. Ter a mesma pessoa interpretando dois personagens completamente diferentes poderia ter dado muito errado, mas acabou se tornando o ponto mais forte da série.
Oscar consegue diferenciar tão bem as personalidades que o espectador sente quando um troca com o outro em tela. Seus sotaques, trejeitos, comportamentos, gestos, tipo de fala, tudo é completamente diferente, uma atuação realmente digna de um Emmy.
A nossa segunda estrela mais brilhante com certeza é Khonshu, o deus grego da cabeça de
pássaro. Tendo sua voz interpretada por Karim El Hakim, o personagem, mesmo sendo feito completamente de CGI, consegue gerar uma grande empatia do espectador, servindo tanto como alívio cômico quanto como uma peça-chave no desenrolar da história.
Não poderia não comentar também da mitologia egípcia presenta na produção. Ela definitivamente mergulha o espectador em seu mundo, apresentando deuses, tradições e
cenários de tirar o fôlego. Com certeza é uma experiência rica e interessante sobre essa
cultura que não se vê propagada em qualquer mídia americana.
CONFLITO INTERNO OU PANCADARIA?
Apesar dos pontos positivos, Cavaleiro da Lua não é perfeito. Infelizmente, a Marvel parece
nunca conseguir sair completamente da sua zona de conforto, e isso acaba prejudicando.
Apesar de tentar muito e executar bem, o roteiro da série é sabotado por si mesmo. Ora aqui, ora ali, há momentos em que situações existem só para preencher tempo de tela. Ao mesmo tempo que o roteiro foca em uma narrativa intimista, esses furos o comprometem. Em algumas cenas onde deveria haver desenvolvimento de personagem, ocorrem lutas injustificáveis que facilmente poderiam ter sido resolvidas com diálogo entre ambas as partes. Felizmente, tais cenas são curtas e não ofuscam o belo trabalho que foi feito na produção.
VEREDITO
No final de tudo e considerando os furos, a narrativa consegue sair satisfatoriamente do
“molde Marvel”. Cavaleiro da Lua é uma série boa que foca no conflito interno do seu protagonista, com sua trama intimista, ela ganha o espectador ao desenvolver muito bem os poucos personagens em que é focada, diversificando o universo cinematográfico da Marvel e apresentando a mitologia egípcia aos fãs da casa das ideias.
Texto: Luan Marzulo – Instagram: @m4rzulo
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