A HQ Chiclete Com Banana foi um marco nos anos 80 ao nos brindar com histórias ácidas, divertidas e uma versão caricata sobre tudo o que rolava naquela época.

Cartunistas como Laerte e Angeli se tornaram figuras conhecidas dessa área, sendo que esse último teve os seus personagens mais conhecidos explorados em médias e longas metragens como “Dossiê Rê Bordosa” (2008) e “Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll” (2006).

Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente (2021) vem agora com ares de nostalgia e fazendo a gente querer buscar esse material quadrinístico, logo após assisti-lo.

Ficha Técnica
Título: Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente
Ano de Produção: 2021
Dirigido Por: Cesar Cabral
Estreia: 11 de novembro de 2021
Duração: 90 min. 
Classificação: 16 anos
Gênero: Animação. Nacional. 
País de Origem: Brasil.
Sinopse: Em resumo, Animação stop-motion que mistura documentário, comédia e road-movie. Traz a história do personagem Bob Cuspe, um velho punk tentando escapar de um deserto pós-apocalíptico que é na verdade um purgatório dentro da mente de seu criador, Angeli, um cartunista passando por uma crise criativa.


Dirigido por Cesar Cabral, acompanhamos aqui o icônico personagem dos quadrinhos nos anos 80, Bob Cuspe, que vive num deserto pós-apocalíptico infestado por astros do pop que estão sempre tentando lhe matar. O cenário onde a história se passa, na verdade, é um purgatório criado dentro da mente do criador de Bob, o cartunista Angeli. Porém, isso não impede da criatura em querer visitar o seu criador.

bob cuspe
O filme na verdade é uma espécie de versão estendida de uma ideia já explorada no curta “Dossiê Rê Bordosa”, em que a ficção e documentário transitavam em harmonia e alinhado como uma trama policial sobre o porquê de Angeli ter matado a sua maior criação. O melhor daquele curta é que tudo foi moldado em animação stop motion, onde os cartunistas e atores atuavam em cena, mas sendo substituídos pelas suas versões caricatas e feitas em massinha. Aqui a proposta é similar, mas expandindo a proposta e indo de encontro com velhos conhecidos da revista Chiclete com Banana e cuja as capas das edições daquela época vão surgindo a todo momento em cena.

Animação em si é um colírio para os olhos, onde não deve em nada se formos comparar a produções de quilate como a recente versão de “Pinóquio” de Guilherme Del Toro. Porém, o teor adulto e ousado pode assustar o marinho de primeira viagem, já que a linguagem é suja, porém, sedutora e com o direito de vermos determinado personagem desfilando com as suas partes intimas. Essa cena, aliás, me lembrou uma clássica HQ de Juiz Dredd, mas que com certeza era algo corriqueiro nas nossas HQ daqui.

bob cuspeA obra possui toda uma carga nostálgica, que nos faz relembrarmos de uma época mais rebelde, punk e sombria dos anos oitenta. Foi um período de transição que estava ocorrendo no Brasil, onde os tempos de Chumbo estavam definhando e a política Democrática estava dando os seus primeiros passos. O filme, portanto, não é somente uma homenagem aos realizadores da HQ, como também de toda uma geração que decidiu jogar tudo para o alto e liberar os seus talentos para coloca-los em prática neste novo Brasil que estava surgindo.

Curiosamente, principalmente nestes tempos retrógrados em que o país viveu, não deixa de ser curioso ver o personagem Bob Cuspe surgir no que parece ser uma São Paulo pós apocalíptica bem ao estilo Mad- Max e procurando tirar satisfações do seu criador por ter lhe matado no passado. Ao meu ver, Angeli é retratado na trama como um realizador com falta de inspiração, não tendo aquela força rebelde e criativa do passado e procurando saber como se encaixar neste novo mundo. Ao meu ver, quando os seus personagens decidem transitar da ficção para o nosso mundo real, seria o sinal de que talvez esse humor ácido em tempos de loucura se faça o necessário o quanto antes.

Porém, se “A Cidade Dos Piratas” (2018) é o que melhor profetizou os anos de destruição que vieram para o nosso Brasil recente, o filme de Cesar Cabral, por sua vez, nos faz pensar se o universo politicamente incorreto de Angeli se encaixa em tempos de hoje em que qualquer passo em falso pode gerar até mesmo um grande processo. Há mais de trinta anos atrás esses realizadores não temiam em pisar em ovos, porém, o inimigo agora é outro e sendo que o mesmo se mistura em diversos perfis de redes sociais, posicionamentos políticos e dos quais hoje se encontram em um atrito infinito. Ao meu ver, o filme serve como homenagem para uma geração mais corajosa que não volta, mas que nunca é demais revisita-la.

Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente é o resgate sobre tempos rebeldes, com humor ácido, adulto, corajoso e que faria essa nova geração politicamente correta sentir inveja de quem viveu naqueles tempos.

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