Foi em junho de 2013 que sem grandes expectativas a Naughty Dog lançou o jogo que viria a se torna (para muitos, eu inclusive) o melhor exclusivo de PS3, The Last of Us. O mais novo exclusivo da Sony chegou na sombra de Uncharted (jogo também desenvolvido pela Naughty Dog), que já era uma franquia de grande sucesso e, até o momento, o principal trabalho do estúdio americano. Mas por que The Last of Us é tão amado pelo público e pela crítica?
⌈⌈ O UNIVERSO IMERSIVO DE THE LAST OF US ⌋⌋
Além de tecnicamente ser um jogo muito bem desenvolvido e, acima de qualquer coisa, divertido, o maior diferencial de The Last of Us é seu enredo. A forma que a história é apresentada ao jogador, o desenvolvimento de cada personagem e a relação entre eles, é isso que o torna tão único, uma experiência imersiva sem igual. Ah, então a história/enredo é algo inédito, cheio de plot twist, com temática pouca abordada, ao algo do tipo? Não, sendo bem sincero essa temática de “apocalipse zumbi” já é bem clichê, diversas franquias já ambientaram seus jogos utilizando este tema, então esse definitivamente não é o segredo do sucesso de The Last of Us. São os pequenos detalhes do enredo que fazem diferença, como por exemplo a escolha do fungo Cordyceps como o responsável pela ruína da civilização humana. Pra quem não conhece o cordyceps realmente existe, porém afeta apenas insetos e alguns artrópodes, então a ideia inicial é o famoso “E se…”, neste caso “E se o cordyceps passasse a afetar humano?”, essa é a ideia inicial e é de onde parte o início desse apocalipse. No geral o background do enredo é algo bem saturado de fato, mas é ai que o roteiristas da Naughty Dog mostraram que uma história bem contata, com personagens bem trabalhados fazem toda diferença, e como fazem.
⌈⌈ JOEL E ELLIE ⌋⌋
Ah Joel e Ellie, que personagens meus amigos, que personagens. Lembra que eu repeti algumas vezes que The Last of Us tem personagens muito bem desenvolvidos, bem como a relação entre eles? Pois era justamente sobre esses dois que estava me referindo. Fazia tempo que não gostava tanto dos protagonistas de um jogo, é praticamente impossível não se emocionar com Joel e Ellie. Joel é aquele coroa sisudo, que aparentemente perdeu a fé na humanidade (não por menos, diante de tudo que ele já viveu), e que já não vê tanto “brilho” na vida desde a morte de sua filha Sarah (no início do desastre com o cordycerps, 20 anos atrás). Já Ellie é uma pré-adolescente (aproximadamente com a mesma idade da filha de Joel) cheia de energia, muito inteligente e esperta, curiosa e fã de HQs, que nasceu já na época dominado pelo fungo, ou seja, nunca conheceu o mundo antes de todo o caos presente. Graças à Marlene, líder do grupo denominado Vaga-lumes (cujo a motivação é encontrar a cura para a contaminação do cordycerps), Joel e Ellie são apresentados e a jornada dos dois se inicia. No decorrer da história somos apresentados à outros personagens, mas é sempre em torno de Joel e Ellie que a história é trabalhada. A princípio Joel não sabe por qual motivo a líder do Vaga-lumes tem interesse em uma garotinha, mas isso não o impede de cumprir seu trabalho (que é entregar Ellie em um local predefinido) no intuito de receber seu “pagamento”. Posteriormente descobrimos que Ellie é imune ao cordycerps, sendo provavelmente a maior e melhor chance dos Vaga-lumes em desenvolver uma vacina e/ou antídoto para combater a contaminação do fungo. Percebendo a importância da garota para o futuro da humanidade, Joel não desiste de cumprir sua missão, mesmo diante das situações mais adversas. No decorrer de quase um ano (no jogo a noção de tempo é mostrada com o passar das estações) a relação dos dois já mudou completamente, o que antes era indiferença agora dá lugar a uma relação muito similar ao de um pai com sua filha, talvez por Joel ter perdido sua filha, que tinha mais ou menos a idade de Ellie, e por Ellie nunca ter tido uma figura paterna, isso inevitavelmente iria acontecer. Como jogadores, conseguimos vê a confiança, a admiração, o respeito e o carinho que surgiu gradativamente entre Joel e Ellie, e isso é feito propositalmente, pois no final do jogo, quando Joel finalmente encontra os Vaga-lumes, descobrimos que o procedimento pelo qual Ellie será submetida provavelmente irá matá-la, e ainda assim não é possível afirmar que a cura para contaminação será certa. Neste momento é quase possível sentir a agonia de Joel em saber que Ellie iria morrer para tentar salvar a humanidade, aquela humanidade podre que, na situação atual, matam, roubam e fazem diversas atrocidades por benefício próprio. Conseguimos vê que ele não irá deixar aquilo acontecer, que não está preparado para passar por outra perda dolorosa (assim como foi a morte de Sarah).
⌈⌈ NÃO PODE SER EM VÃO ⌋⌋
Com os Vaga-lumes agora como inimigos Joel consegue resgatar Ellie e antes de fugir das instalações é obrigado a confrontar Marlene, que acaba levando a pior e morre. Após recuperar os sentidos (já que tinha sido sedada para realização do procedimento) e despertar, Ellie questiona Joel sobre o que ocorreu, mas obviamente recebe uma mentira como resposta, já que ela realmente estava disposta a se sacrificar para a criação de uma cura. Joel fala para Ellie que existem dezenas de pessoas como ela (imunes ao cordycerps) e que os Vaga-lumes já tinham tentado encontrar uma cura, mas não deu em nada e agora até mesmo eles desistiram de procurar. Neste ponto que vemos como Joel é um protagonista humano, com todos seus defeitos, que preferiu não abrir mão de Ellie em trocar de tentar resolver toda aquela situação, bem diferente de outros protagonistas clichês que sempre estão dispostos a se sacrificar em troca do “bem maior”. Por mais que a temática abordada no jogo seja bem “batida”, a forma como os acontecimentos são mostrados e a decisão final de Joel são únicas. Muitos jogadores amaram o jogo e odiaram o final, já que tudo ainda estava um caos, não existia qualquer perspectiva de cura para a contaminação do cordycerps e para completar os Vaga-lumes viraram nossos inimigos. Porém quem realmente conseguiu entender que a ideia deste primeiro jogo era mostrar que mesmo nas situações mais adversas, em que confiança e solidariedade é algo quase inexistente, ainda podem surgir relações/amizades verdadeiras, conseguiu entender a decisão final de Joel. O próprio diretor da Naughty Dog, Neil Druckmann em entrevista sobre o próximo jogo da série, The Last of Us part II, afirmou que o primeiro jogo era sobre “uma história de amor” ao passo que a sequência será sobre “uma história de ódio”.
⌈⌈ IR AOS LIMITES DO UNIVERSO E VOLTAR. PERSEVERAR E SOBREVIVER ⌋⌋
Mas não pense que The Last of Us é apenas enrendo, longe disso, esse é apenas o motivo do jogo ser tão imersivo, pelo menos para mim. Além de tudo já dito até o momento, o jogo tem uma jogabilidade ótima, bem similar a de Uncharted (desenvolvido pelo mesmo estúdio), mas sem a parte dos pulos, ou seja, não tão frenética. No decorrer do jogo temos basicamente dois tipos de combate: contra infectados e contra humanos (milícia, caçadores, membros do Vaga-lumes), bem diferentes entre si, onde devemos saber utilizar bem os recursos disponíveis no ambiente (principalmente nas dificuldades mais elevadas). Além de visualmente muito bonito e com uma ótima trilha sonora, a cereja do bolo fica por conta do multiplayer, focado no PvP e bem viciante. Não é atoa que The Last of Us é sucesso de público e crítica, com média de 95 no Metacritic, vencendo diversas premiações de “Jogo do Ano” em 2013. The Last of Us foi sem dúvidas o jogo que “fechou com chave de ouro” a geração passada, tanto que quase um ano depois foi um dos primeiros jogos a ser remasterizado para o PS4, para alegria dos donos do console que não tiveram a oportunidade de jogar essa obra-prima no PS3.