Quem foi José Mojica Marins?
José Mojica Marins nasceu em São Paulo, em 13 de março de 1936, e, desde cedo, frequentou os bastidores de cinemas e teatros, uma vez que seu pai era dono de um cinema de bairro. Dessa forma, ele teve contato direto com o universo artístico, o que, posteriormente, influenciaria profundamente sua carreira. Ainda jovem, começou a produzir seus próprios filmes, mesmo sem apoio financeiro ou técnico. Com muita criatividade e esforço, construiu sua carreira em tempos conturbados, sob os olhares de uma sociedade extremamente conservadora. Mesmo diante de críticas e julgamentos, não se deixou intimidar e abriu caminho para o terror nacional.
O Nascimento de Zé do Caixão
Zé do Caixão nasceu de um pesadelo que José Mojica Marins teve: uma figura vestida de preto, com unhas longas e olhar demoníaco, o perseguia e o arrastava para dentro de um túmulo. Ao acordar assustado, ele teve a inspiração e começou a desenvolver o roteiro daquele que seria seu primeiro filme com o personagem icônico: “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1963).
Na trama, Zé é um coveiro ateu e cruel, obcecado em gerar o “filho perfeito” para que seu legado seja continuado. Com sua estética sombria — chapéu, capa preta, olhar penetrante e unhas enormes — somada a uma narrativa carregada de simbolismo e violência social, o personagem causou um verdadeiro choque na época.
Aquela figura grotesca e imponente, que desafiava o sagrado no Brasil conservador dos anos 1960, era, na verdade, um reflexo dos medos e angústias de uma sociedade em transformação.
Filmografia
Seus primeiros filmes foram feitos praticamente sem dinheiro. Mojica costumava dizer que o orçamento de uma de suas produções dava “para comprar apenas um caixão e dois sacos de cal”. Ele improvisava figurinos, usava amigos como figurantes e até chegou a pintar galinhas para que parecessem outras espécies — prática que, claro, foi bastante criticada. Em outra ocasião, utilizou tripas reais de boi e sangue de verdade para dar mais realismo às cenas de tortura.
Entre suas principais obras está a Trilogia Macabra, formada pelos filmes:
- À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964)
- Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967)
- Encarnação do Demônio (2008)
Além da trilogia principal, Mojica dirigiu e estrelou dezenas de produções trash, muitas vezes misturando terror, sexo e surrealismo. Alguns exemplos incluem:
- O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968)
- A Sina do Aventureiro (1958)
- Delírios de um Anormal (1978)
- Exorcismo Negro (1974)
Conclusão
Com esta matéria, quero valorizar um personagem que, infelizmente, pode estar caindo no esquecimento principalmente das novas gerações, e acho importante relembrar sua importancia ao terror nacional, principalmente diante do sucesso de grandes obras de terror, principalmente as hollywoodianas — como o recente Terrifier, que estourou a bolha, entre tantos outros filmes.
José Mojica Marins, ou Zé do Caixão, como preferir, é um ícone que foi muito além de uma figura impactante ou até mesmo grotesca. Ele foi o responsável por trazer o terror ao território nacional, transformando o trash em arte e o grotesco em culto. Mojica viveu como um rebelde, não em busca de dinheiro ou fama, mas sim de expor sua arte.
Sua obra prova que, independentemente das dificuldades, censuras e obstáculos que enfrentou, precisamos manter vivo o seu legado.