Mufasa: O Rei Leão | Confira nossa crítica

O ciclo da vida avança e se desdobra, mas necessita da reutilização de elementos já abordados pela amada franquia

A convite da Disney, fomos conferir a nova aventura inédita de uma das sagas mais amadas de todos os tempos: O Rei Leão. Prometendo consertar os erros cometidos em 2019 na missão de transformar uma animação de animais selvagens humanoides em live-actions realistas, a prequela conta a história inédita de Mufasa e seu irmão Taka, que anos depois passará a ser conhecido como Scar.

Ficha Técnica
Título: Mufasa: O Rei Leão
Ano de Produção: 2024
Dirigido Por: Barry Jenkins
Estreia: 19 de dezembro de 2024
Duração: 1h 58m
Classificação: Livre
Gênero: Drama, Aventura, Musical
País de Origem: Estados Unidos
Sinopse: Mufasa, um filhote órfão, perdido e sozinho, conhece um simpático leão chamado Taka, herdeiro de uma linhagem real. O encontro ao acaso dá início a uma grande jornada de um grupo extraordinário de deslocados em busca de seu destino, além de revelar a ascensão de um dos maiores reis das Terras do Orgulho.

 

 

O peso do legado

Se consolidando como um dos maiores sucessos de venda e aclamação da crítica especializada, a animação “O Rei Leão” de 1994 eleva o patamar para todas as obras que carregam o legado de seu nome. Lá em 2019, no meio de sua empreitada de transformar clássicos em live-action, a Disney resolveu dar vida a uma nova versão de “O Rei Leão”, dessa vez, com animais extremamente realistas. Apesar de marcada por críticas acerca da falta de expressividade dos animais representados, a versão lançada respeitou a obra original e abraçou a nostalgia, não ousando adicionar detalhes inéditos a trama e reconhecendo a excelência da animação clássica.

Em “Mufasa: O Rei Leão”, o contexto muda de figura. No novo longa, o estúdio do ratinho decidiu expandir seu universo, contando um capítulo inédito na história de um dos leões mais queridos do cinema, incluindo peças musicais novas e personagens que nunca haviam sido citados. Ousando muito e apostando alto, a nova jornada de Mufasa não pode escapar de algo inerente a todas as grandes sagas que tentam inovar: comparações com a sua obra original.

Consertando erros do passado

Transformar animações em live-actions nunca foi fácil, mas se torna ainda mais difícil quando se trata de animais e não de pessoas. Se em 2019 parecia que estávamos assistindo a um documentário dublado, em “Mufasa: O Rei Leão” a Disney ouviu as críticas e conseguiu dar vida a animais muito mais expressivos e humanoides, tudo isso sem perder o tom de realismo do longa. A diferença é notada desde os primeiros minutos do filme. Felicidade, tristeza, surpresa, medo… todos os sentimentos humanos são facilmente perceptíveis nos rostos dos leões, que parecem movimentar muito mais os olhos e cantos da boca, sem causar nenhuma estranheza.

Além da expressividade, os cenários estão mais deslumbrantes do que nunca. Com o avanço das tecnologias de renderização já chegamos a um ponto onde fica difícil notar essas pequenas melhoras, mas é inegável que elas ocorreram aqui. A água é super fluída, a vegetação é viva e os cenários são absurdamente convincentes. Composto por zonas secas, florestas, neves e montanhas, a diversidade alinhada a perfeição técnica contribui para tornar a ambientação em um show à parte.

Inédito de verdade?

Como já dito no texto, “Mufasa: O Rei Leão” não se propõe apenas a recontar uma história já existente como seu antecessor de 2019, mas sim escrever um novo capítulo na saga que marcou gerações, adicionando músicas e personagens inéditos a esse universo. Aqui, o estúdio do castelo mágico poderia simplesmente ter adaptado a sequência da animação original aos mesmos moldes do seu primeiro remake, mas ousou expandir seus horizontes apostando em um roteiro inédito. Mas será que foi inédito de verdade?

Ao longo do filme, notam-se diversas semelhanças com a obra original. Seja em forma de homenagem, ângulos de câmera ou até situações parecidas, é inegável que os momentos mais marcantes de “Mufasa: O Rei Leão” são meramente uma reciclagem de elementos ou acontecimentos da obra original. Vejam bem, o problema não mora em homenagear seus antecessores, mas sim em copiar seus momentos marcantes e vender como uma nova história, mesmo quando você tinha se proposto a contar uma inédita.  Essa repetição, infelizmente, também está presente nas músicas do filme. Apesar de escritas pelo incrível Lin-Manuel Miranda, as peças musicais parecem não ser nada mais do que uma reciclagem das originais, se aproveitando ora de sua temática, ora de suas coreografias, musicalidade e ordem de aparição. É nítida a semelhança de “Irmão Que Eu Sonhava” com “O Que Eu Quero Mais É Ser Rei”, “Tchau Tchau” com “Se Preparem” e “É Você” com “Nesta Noite o Amor Chegou”.

O que tem de novo

Apesar de tudo isso, há elementos verdadeiramente novos na da saga dos leões. O filme gira em torno do filhote Mufasa e sua irmandade com Taka, perpassando toda a sua jornada até se tornar o Rei Leão. Além dos dois protagonistas, o longa tem sua trama apresentada em formato de flashback, portanto, Simba, Nala, Timão, Pumba e Kiara, a filha e herdeira de Simba, também estão presentes. Personagens nunca antes citados também são apresentados, bem como revelações inéditas acerca do passado de Sarabi, Zazu e Rafiki.

Apesar de recheado de personagens novos e já conhecidos, o destaque cai em cima de Mufasa e Taka. O primeiro demonstra o que os fãs da franquia sempre imaginaram, um leão sereno, tranquilo, justo e de coração bondoso. O segundo se revela como um filhote meigo, carismático e super animado. A forma com que a amizade dos filhotes é desenvolvida no filme é cativante e confortável, principalmente graças a incrível performance de Cauê Enzo como Taka, que vale a pena ser mencionada na dublagem brasileira.

O ritmo que a narrativa se desenvolve é satisfatório, sem se apressar ou arrastar em alguns momentos. O novo vilão apresentado não se destaca, apesar do seu número musical ser o mais memorável do longa. No mais, o desenvolvimento da relação de Mufasa e Taka é envolvente e bem construída, movendo sempre a trama para frente de um jeito a instigar a curiosidade do espectador. Apesar do momento de transformação de Taka em Scar ser repentino, brusco e não tão bem justificado, os conflitos e emoções que cercam a relação dos dois leões são emocionantes e carismáticos, construindo uma narrativa que, apesar de não ser indispensável para o cânone do universo, é bonita de ser apreciada.

Vale a pena?

Apesar de ter seus pontos altos (incluindo peças musicais) ancorados em reciclagens da obra original, “Mufasa: O Rei Leão” conserta erros técnicos do passado e nos transporta até uma nova jornada no universo que amamos. Contando com conveniências de roteiro e um gosto de estar assistindo “O Rei Leão” de 1994 com modificações, a história de Mufasa e Taka é emocionante, repleta de cenários belíssimos e detalhes inéditos curiosos de personagens que já conhecemos. Embora não seja uma história necessária, atinge seu objetivo e consegue com maestria aquecer o coração dos saudosos fãs de uma das franquias mais amadas da animação.

Nota: