Pela Biônica Filmes, fomos convidados a participar da pré-estreia de Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, com direito a uma entrevista com os convidados, incluindo Fernando Fraiha (diretor do filme), Taís Araújo, Luis Lobianco (Nhô Lau), Isaac Amendoim (Chico Bento), Pedro Dantas (Zé Lelé) e Anna Júlia Dias (Rosinha).
Título: Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa (Original) |
---|
Ano de Produção: 2025 |
Dirigido Por: Fernando Fraiha |
Estreia: 9 de Janeiro de 2025 ( Brasil ) |
Duração: 1h 30min |
Classificação: Livre |
Gênero: Aventura, Comédia |
País de Origem: Brasil |
Sinopse: Um dos personagens mais queridos do universo de A Turma da Mônica irá enfrentar um grande desafio em Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa. Chico Bento acorda para mais um dia na Vila Abobrinha focado em conseguir subir em sua amada goiabeira para pegar a fruta sem o dono das terras saber. O que Chico não esperava era que sua preciosa árvore estaria ameaçada pela construção de uma estrada na região, já que, para desenhar a rodovia, será preciso pavimentá-la pela propriedade de Nhô Lau, exatamente onde a goiabeira está plantada. Focado em salvar a árvore, Chico Bento reúne seus amigos Zé Lelé, Rosinha, Zé da Roça, Tábata, Hiro e toda a comunidade para acabar com o projeto da família de Genezinho e Dotô Agripino. Com a turminha se metendo em diversas confusões, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa traz uma aventura que irá tirar o sossego e a tranquilidade da Vila Abobrinha. |
---|
Clima especial
A pré-estreia foi marcada pela decoração temática, com goiabas enfeitando todo o pavilhão do cinema. As entrevistas e a decoração você pode conferir no nosso Instagram. Dito isso, veja o que achamos do filme abaixo.
Vamos ao filme
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa mostra a competência do Universo Cinematográfico da Turma da Mônica em sua estética e com um elenco carismático, mas peca focando em uma história mais bobinha e não explorando os personagens tanto, o que não ajuda o filme a se igualar aos seus antecessores.
No filme, Chico Bento tem a sua vida tranquila interrompida quando descobre que a goiabeira de Nhô Lau seja derrubada para a construção de uma estrada. Ele, assim, junta seus amigos para impedir que isso aconteça.
A Turma da Mônica, como propriedade intelectual, consegue se manter relevante constantemente através de suas decisões criativas. Desde o selo Graphic MSP, que imagina os quadrinhos em situações mais sérias, até almanaques paródias de filmes clássicos, a turminha ganha pontos, normalmente, por conseguir colocar a sua fórmula em conceitos e ideias não muito ortodoxas, em que mesmo se não derem certo, só do fato de existir tal obra já é uma vantagem. Os filmes live-action não são diferentes.
Dos quadrinhos para as telas
Quando se trata dos filmes live-action da Turma da Mônica, o principal aspecto positivo deles é a sua estética. Há uma tendência em adaptações, principalmente de quadrinhos, a falhar no seu tratamento de cores, deixando o filme com uma aparência cinza e desgastada, normalmente o completo oposto de seus materiais originais. Os live-actions da Turma apostam no completo contrário, saturando as cores de seus planos para enfatizar a parte mais importante dos designs dos seus personagens, desde suas roupas aos seus cabelos. Essa escolha criativa sempre ajudou, também, a vender a ideia da “infância utópica” que os filmes trazem. O filme de Chico Bento faz o mesmo, mas não exagera tanto nas cores como os seus antecessores, já que ele se passa numa área rural sempre com o sol à tona, diferente do Bairro do Limoeiro com suas casas suburbanas e florestas densas. Ao Teoria Geek, Fernando Fraiha, diretor do filme, disse que foi buscado outro DNA para o universo Chico Bento, outra forma de contar essa história, e que o jeito de enxergar um live-action da Turma da Mônica foi mantido, mas um processo criativo foi desenvolvido para encontrar uma autoria, não só do diretor, mas do personagem Chico Bento também.
A autoria do filme é bem mantida, realmente, em sua direção. Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa tem um foco muito interessante em objetos e nas suas presenças em seus cenários, algo diferente de Laços e Lições, dirigidos por Daniel Rezende, agora como produtor do filme. Enquanto os filmes da Turma da Mônica procuravam colocar a turma inteira na tela,os planos de Chico Bento encaram objetos, como a titular goiabeira e suas goiabas nas mãos de Chico como o foco da cena, implementando zooms exagerados ou movimentos horizontais, as vezes até parecendo um western, ou até cenas em que Chico fala diretamente para a câmera, direcionado ao espectador, provavelmente feita para emular o conteúdo de internet do ator que interpreta o personagem-título. Outro aspecto que separa os dois é o surrealismo das situações do filme. Como o cenário em que Chico vive é bem mais simples, o menino parece ter desenvolvido uma imaginação mais fértil, levando-o a antropomorfizar tudo ao seu redor, desde os animais da fazenda até o seu próprio coração, o órgão sendo só Chico com uma fantasia de lã falando consigo mesmo. O filme tem até uma sequência em animação no final do segundo ato. Essas sequências e planos trazem um olhar novo para o universo estabelecido e deixa claro a criatividade dele, um ar novo a filmes de criança desse gênero.
Em questão de roteiro, os personagens agem do jeito usual que agiriam nos quadrinhos, sem nenhuma surpresa. Lições e Laços também não fugiam muito dos papéis cementados de cada um no cânone sexagenário da Turma, então não se esperava diferente de Chico Bento e seus amigos. Um ponto bem negativo do filme em relação aos da Mônica é sua história. Laços e Lições eram filmes bem básicos em sua estrutura, mas eram acima da média por, principalmente, terem temáticas mais maduras como conceito, principalmente o último, em que o tornava mais um filme para adolescentes que para crianças, apesar da turminha serem os protagonistas. Chico Bento, conforme o filme se desenrola, parece continuar com a tradição à primeira vista, mas eventualmente abandona a temática interessante de “progresso vs tradição” e prefere concluir de um jeito bobo e infantil demais. Enquanto Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali terminam os seus filmes mais maduros, Chico e seus amigos não precisam aprender lições porque já estavam certos o tempo todo, com uma visão ambientalista bem óbvia sendo enfatizada. Bom lembrar também que, apesar da tentativa, os personagens do filme não parecem conseguir carregar ele muito bem.
Laços e Lições, previamente, começaram a se preocupar demais em colocar referências ao cânone constantemente na tela como uma tentativa fácil de agradar o espectador. Colocar o Maurício de Souza na tela não é exatamente o fim do mundo, mas Lições, por exemplo, foi o pior dos dois quando se trata disso, quase parando o filme para mostrá-las. Algumas dessas aparições especiais até envelheceram mal após anos do lançamento do filme. Chico Bento, felizmente, se desvia disso, mas a impressão fica de que os próprios criadores não tinham personagens o suficiente para enfiar no filme só como referência, já que ele usa, praticamente, todos os personagens icônicos da Vila Abobrinha ativamente na trama, de um jeito ou de outro. Só que nem todos são aproveitados bem.
Os filmes live-action da Turma da Mônica também acertam em seus elencos e com Chico Bento não foi diferente. Em suas entrevistas ao Teoria Geek, cada ator falou um pouco sobre o que deixaram em seus personagens. Isaac Amendoim, Pedro Dantas e Anna Julia Dias, que atuam como Chico Bento, Zé Lelé e Rosinha, respectivamente, enfatizaram como os personagens eram bem parecidos com eles. Isaac falou sobre como o seu amor à roça e aos bichos foi levado ao caipira, Pedro mencionou como sua espontaneidade refletiu nos trejeitos e diálogos mais esquisitos e doidos de Zé Lelé, e Anna destacou o preparo que todos tiveram antes de gravar e como sua meiguice espelhava a de Rosinha. Essas características são mostradas na tela bem, com as interações desse trio sendo algumas das melhores partes do filme, com ênfase à dupla de meninos principais, que são muito bons em tirar dos quadrinhos o que deixa esses personagens parte da cultura brasileira por tanto tempo, especialmente Pedro Dantas, que não só é igual ao Zé Lelé de aparência, como o interpreta absurdamente bem.Os problemas começam quando os atores mirins precisam colocar mais emoção em suas performances, mas isso é bem comum em atores crianças e é algo que Laços e Lições também eram insuficientes, então não é um ponto negativo tão grave.
Continuando nas personagens, o ponto negativo único desse filme em relação aos prévios é como ele os aproveita. Foi dito antes que o filme usa todo o cânone do Chico Bento de um jeito ou de outro, mas ele não procura muito evoluir o que estava nos quadrinhos para as telas. O grupo de amigos do Chico Bento não só tem Zé Lelé e Rosinha, mas conta com Zé da Roça (Guilherme Tavares), Hiro (Davi Okabe) e Tabata (Lorena de Oliveira), sendo que os 3 não fazem muito no filme e não são desenvolvidos o suficiente para realmente de destacarem em algo, o que deixa a turma do Chico com uma redundância horrível e com uma sensação de que o filme tem personagens demais. Constantemente, quando o grupo faz algo, a câmera decide focar no trio de Chico, Zé e Rosinha, com as outras crianças deixadas de lado. Esse é um ponto importante por causa dos filmes prévios e de seu cuidado em dar a cada um do quarteto principal da Turma da Mônica algo para fazer e brincar com os seus arquétipos clássicos, e para subvertê-los quando a história pedia. Esse aspecto do filme pode ter vindo do fato da Turma do Chico não ser tão grande ou detalhada quanto a da Mônica, mas aprimorar personagens tão simples de anos de tirinhas para um filme de 1 hora e meia poderia ter sido feito e até poderia ter sido uma oportunidade de modernizá-los também. Até Tabata, uma personagem muito mais recente aos quadrinhos que o resto, não deixa uma impressão muito grande além de fazer parte de uma piada recorrente envolvendo Zé Lelé.
Os adultos do filme também são secundários ao trio principal e, infelizmente, não tem um cuidado maior, principalmente por causa da temática principal do filme. Como enfatizado antes, o filme leva a crer que promoverá um debate sobre o preço do progresso em prol da tradição quando começa a introduzir os vilões do filme. Chico Bento e sua turma, ao ouvir que a goiabeira de Nhô Lau será destruída para uma estrada passar por lá, súplica aos adultos para não deixar isso acontecer. As respostas dadas por eles refletem mais uma visão realista da situação, pensando sobre como uma estrada ajudará os fazendeiros levarem suas mercadorias para mais longe ou receberem matérias-primas mais rápido. Essas reflexões levam a crer que o filme vai colocar uma mensagem mais madura sobre o balanço entre os dois, mas, ao final, os adultos só são tratados como errados e bobos. Suas performances refletem isso, diferente dos pais da Turma da Mônica de Laços e Lições, com todos eles sendo relegados a caretas e piadinhas rápidas. O personagem que mais perde é o dono da goiabeira do título, Nhô Lau. Luis Lobianco, o ator que o interpreta, quando perguntando sobre como o personagem foi tratado no filme e como ele se diferencia de seu papel mais simples dos quadrinhos, afirmou que, como um filme live-action, o personagem poderia ganhar mais camadas e ter características mais interessantes e um arco mais complexo, enfatizando o foco do Nhô Lau como um fazendeiro mais tradicional que, aos poucos, se mostra um aliado importante na trama. No filme, o dono da goiabeira é uma das figuras centrais da trama e é bem interpretado por Lobianco. O trabalho cenográfico do filme também ajuda a mostrar o personagem com mais detalhes (esse sendo, desde Laços, uma das partes mais caprichadas do universo), com Nhô Lau morando sozinho, num terreno enorme, em uma casa pequena e simples, enfatizando como ele é distante do resto da Vila. Entretanto, apesar de, assim como os outros adultos, refletir sobre as vantagens da estrada, Lau não parece ter muita influência na história além de ser o dono da goiabeira e correr atrás do Chico Bento em cenas cômicas. Mesmo com a pouca evolução, Nhô Lau é o personagem que mais muda durante a história, com o arco mais bem definido. Mesmo assim, com as oportunidades que o filme teve, Nhô Lau poderia ter sido bem mais aproveitado do que foi. Essa é uma frase que pode descrever, também, a personagem de Taís Araújo.
Quando perguntada sobre quem era a personagem, Taís arregalou os olhos e olhou para os lados, com um pouco de espanto. Falar muito sobre sua personagem seria um grande spoiler do filme, com suas únicas palavras sobre ela sendo “é o ser que o Chico Bento mais ama nesse mundo”. Não será revelada a identidade da atriz no filme nessa crítica, pois ela é central ao filme, perguntando-se até se deveriam ter sequer mostrado que a atriz está nele, mas Taís aparece mais como uma participação especial que uma personagem mesmo, assim como o Louco de Rodrigo Santoro foi em Laços, mas não deixa sua passagem pelo filme menos importante. A cena que a envolve é uma das mais interessantes da obra apenas pelas escolhas artísticas implementadas, que promovem o surrealismo maior da trama em relação aos filmes prévios. Mesmo assim, leva-se a crer se, por conta da participação de Taís Araújo ter sido apenas uma ponta, a cena foi implementada por fatores externos, como conflitos de agendamento ou parecidos, do que algo que realmente estava lá desde o início. A cena continua bem-humorada e torna-se mais uma surpresa num filme bastante charmoso, que apesar de ter uma qualidade de animação não tão boa, mostra que a intenção estava no lugar certo.
E, para os filmes do Universo Cinematográfico da Turma da Mônica, o seu charme são o que fazem deles serem mais interessantes que quase todos os filmes de criança e de quadrinhos que saem durante o ano, e Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa não é diferente. Ele é, com certeza, mais fraco que Laços e Lições, mas ainda demonstra que a equipe envolvida realmente quer fazer algo diferente. Seus piores aspectos, desde sua história mais boba e a falta de desenvolvimento dos personagens, devem ser enfatizados, principalmente, porque os filmes se colocam num patamar elevado em quando se trata de seu espaço como uma obra infantil, já que é parte de um universo que, previamente, deu filmes que se preocupavam bastante com a estética além de suas lições ao final. Quando se trata de seus aspectos visuais e de elenco, o primeiro (sua sequência já foi anunciada) filme de Chico Bento continua a visão e o cuidado de sua equipe criativa e demonstra o porquê dos personagens de Maurício de Souza ainda serem tão icônicos depois de anos de existência, apesar de seu roteiro e elenco deixar a desejar algumas vezes.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa estreia dia 9 de janeiro nos cinemas brasileiros. Mais uma vez, agradecemos a Biônica Filmes pelo convite.