Medusa | Confira nossa crítica

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Anita Rocha da Silveira tem um interesse em retratar as mudanças do comportamento das pessoas quando elas se encontram diante de situações em que elas não podem controlar.

Em Mata-me Por Favor (2016), por exemplo, testemunhamos um grupo de alunos começando a se comportar de uma forma quase destrutiva no momento em que começam acontecer assassinatos na região.

Em Medusa (2023) a aposta é ainda maior, já que a trama nada mais é do que um retrato ácido sobre alienação conservadora do nosso país de hoje em dia e da qual sufoca a mulher com todas as forças.

 

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Ficha Técnica
Título: Medusa
Ano de Produção: 2021
Dirigido Por: Anita Rocha da Silveira
Estreia: 16 de Março de 2023
Duração: 127 minutos
Classificação: 16 anos.
Gênero: Fantasia. Terror.
País de Origem: Brasil. 
Sinopse: Há muitos e muitos anos, a bela Medusa foi severamente punida por Atena, a deusa virgem, por não ser mais pura. Hoje, a jovem Mariana pertence a um mundo onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de uma mulher perfeita. Para não caírem em tentação, ela e suas amigas se esforçam ao máximo para controlar tudo e todas à sua volta.

A trama bebe muito da conhecida história da mitologia grega, sendo aquela da Medusa. A moça foi sacerdotisa de Atena, a deusa virgem, mas Poseidon veio e violentou sua serva em seu local de oração e devoção. É então que Atena pune severamente a moça, fazendo com que seus cabelos se tornassem cobras e qualquer homem que ousasse olhá-la, seria transformado em pedra. Hoje, o mito ainda é muito bem conhecido. Mariana (Mari Oliveira) é uma jovem que se esforça ao máximo para manter a aparência de que é uma mulher perfeita. Para resistir à tentação, ela e suas amigas se esforçarão ao máximo e farão tudo em seu alcance para controlar tudo e todas à sua volta. Porém, a vontade de gritar é cada vez mais forte.

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Se o cinema brasileiro de terror atual se encontra forte, muito se deve ao fato da própria realidade nossa se tornar um terreno fértil de ideias para serem levados as telas. Desde que ocorreu o Golpe Parlamentar de 2016, o país se viu diante da abertura da Caixa de Pandora, em que golpistas da extrema Direita, alinhado com um conservadorismo hipócrita vindo de religiosos fanáticos, tomaram por assalto vários órgãos do governo e abrindo caminho para um desgoverno alinhado por um fascista que foi o Bolsonaro.

O filme como um todo é uma síntese sobre esses últimos anos, onde houve retrocessos, destruição da cultura e perseguição cada vez maior contra as mulheres. Neste último caso, por exemplo, isso é acentuado na questão das jovens vistas na tela, onde elas são persuadidas em serem perfeitas, belas recatadas e do lar. Porém, elas são levadas em acreditar que precisam exterminar aquelas que estão livres para fazerem o que bem entendem, quando na verdade acabam se tornando pessoas piores e sem nenhuma personalidade. A personagem Mariana transita entre a doutrinação e ao mesmo tempo começando a enxergar algo que não havia sentido, principalmente no momento em que começa a buscar alguém do passado.

Curiosamente, Anita Rocha da Silveira cria um filme em que há uma espécie de transição entre realidade, sonhos e delírios da personagem, da qual não sabemos ao certo se o que testemunhamos são pesadelos ou o peso de sua consciência e que começa a persegui-la. Isso nos dá o direito de levantar inúmeras possibilidades, principalmente com relação ao hospital em que ela começa a frequentar cujo cenário se torna bastante claustrofóbico na medida em que a trama avança. Portanto, aguardem para determinados sustos bem caprichados e que não devem nada ao cinema norte americano.

Embora ainda muito jovem, Mari Oliveira carrega com elegância o filme nas costas, já que a sua personagem nos cria sentimentos conflitantes, onde no princípio não sentimos afeição por ela devido aos seus atos conservadores, mas que logo essa sensação começa a mudar a partir do momento em que ela começa a sentir algo por dentro e do qual precisa ser liberado.

Mas, é Lara Tremouroux que se sobressai, ao interpretar a melhor amiga da protagonista e que representada a típica jovem que deseja ser perfeita e a mais popular das redes sociais ao usar a religião como ferramenta principal, quando na verdade é uma de várias jovens desse país que cada vez mais desejam gritar.

Neste último caso, por exemplo, isso é sintetizado em sintonia máxima nos derradeiros minutos finais da trama, onde gritos que disparam diante de nós nada mais são do que uma representação de várias jovens desse país atual sendo manipuladas pelo sistema patriarcal. Em tempos em que a Democracia venceu merecemos gritar pela nossa liberdade, mas o mal travestido de “cidadão do bem” não está morto e precisa ser combatido.

Com participação especial de Bruna Linzmeyer, Medusa fala sobre jovens garotas presas em seus próprios corpos, mas cujo grito que elas guardam, logo serão disparados e nenhum falso cristão irá impedir isso.

 

As opiniões contidas neste post são de cunho pessoal e não refletem necessariamente a opinião do Teoria Geek. 

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